quinta-feira, setembro 30, 2010

Mendicidade: O lado visível da pobreza urbana?


O índice de mendicidade na cidade do Maputo tende a crescer. Cada dia que passa novos efectivos que procuram viver graças a pessoas de boa vontade nas artérias da capital engrossam as fileiras de mendigos, num fenómeno social complexo e cujas razões são diversas, mas que todas parecem ter origem num problema que afecta a família, célula base da sociedade. As crianças, por exemplo, alegam que são maltratadas pelos pais ou parentes, enquanto os idosos dizem não ter ninguém em casa para lhes dar de comer ou que foram expulsos da convivência familiar sob acusação de feitiçaria. E os deficientes, esses, justificam a sua decisão de recorrer à esmola ao estigma e discriminação de que são alvos na própria família.

Nos últimos tempos a “jornada” dos mendigos, sobretudo às sextas-feiras, mobiliza inclusivamente famílias inteiras e idosos vindos de pontos distantes, como Boane e Manhiça, hoje facilmente ligados à capital por autocarros dos Transportes Publicos do Maputo (TPM), nos quais gente de terceira idade não paga. As autoridades do pelouro dizem que têm lançado iniciativas para que aquele grupo social receba as ajudas em locais decentes e chama à atenção à família e à sociedade para que assumam o seu papel.

Em nome da pobreza famílias carentes chegam a envolver-se na actividade, movimentando-se para a cidade, num exercício em que crianças e deficientes são muitas vezes usados como “isca” para sensibilizar os comerciantes e os automobilistas a darem esmola.

Em plena Avenida 24 de Julho a nossa Reportagem interpelou Aida Maolele, na companhia dos seus seis filhos. O mais velho, 16 anos, e o mais novo com apenas meses de vida.

Aida conta que gostaria de abandonar a vida que está a levar, pois reconhece que em nada dignifica a si e aos seus filhos, mas não tem outra alternativa de sobrevivência. Aurélio, o primogénito, não conhece o pai e nem outro membro da família se não a mãe e os irmãos.

Com destino à baixa da cidade, Aida deixa a casa às 6.00 horas na companhia dos filhos. Uma vez na cidade, a família desdobra-se pelas principais ruas da urbe e se junta ao fim da “jornada”, entre 13.00 e 14.00 horas, numa esquina previamente combinada. “Os mais novos andam comigo, mas os restantes três sozinhos, conseguindo cada um 150,00 a 200,00 meticais. Porque são rápidos, eles conseguem alcançar um maior número de lojas”, disse Aida Maolele, afirmando que Aurélio teve que parar de estudar quando concluiu a quinta classe. Os mais novos é que continuam a frequentar a escola.

Neste exercício, ao que apurámos, os mais novos conseguem amealhar mais porque são ágeis. Os idosos reconhecem esta desvantagem, mas dizem não ter outra alternativa senão enfrentar o desafio. Também criticam alguns comerciantes, alegadamente por lhes tratar mal. “Dão-nos pão seco, 50 centavos e às vezes cones de sorvete vazias. Noutras ocasiões formamos uma longa bicha e quando chegamos à porta dizem-nos que o pão acabou e corremos para outra loja”, disse Amélia Kefasse, que desde 2006 se dedica à mendicidade na cidade do Maputo.

Natural de Gaza, a nossa interlocutora veio à capital do país em 1990 devido à guerra, na companhia do filho. “O meu marido morreu vítima da guerra, num ataque, em Chibuto, Gaza, em 1989. No ano seguinte o meu filho me levou para Maputo, só que depois me largou para a África do Sul, de onde nunca mais voltou”, disse.

Amélia Kefasse vive no bairro Khongolote, numa palhota construída em solidariedade pela comunidade. Já cansada pela idade e doença, explica que gerou três filhos, dois dos quais morreram em Gaza. “Alberto é o único que ficou, mas também me abandonou, por isso não conto mais com ele”, lamenta, para depois explicar que deixou na sua terra natal duas irmãs, mas não sabe se continuam vivas.

A sua companheira de jornada, Altina Novela, contrariamente, nunca teve filhos e não conheceu na vida qualquer casamento. “Não tenho ninguém”, desabafa Altina.

As duas idosas, com mais de 70 anos de idade, reconhecem ser dura a vida que levam, mas dizem não ter outra alternativa. Durante a semana as duas “companheiras” se dedicam à recolha de restos de verdura nos grandes mercados, reservando as sextas-feiras para a esmola, uma ginástica que lhes rende 50,00 a 60,00 meticais por semana.

Elas ainda não são beneficiárias do subsídio de alimentos, embora estejam inscritas desde o ano passado no bairro onde vivem.

Amélia e Altina conheceram-se nas duras jornadas da busca da sobrevivência. Apanhavam quase sempre o mesmo autocarro dos TPM, onde viajam sem pagar, uma vez que a idade lhes confere esse direito.

Um outro idoso que vive à base de esmola é João Mandava. Este não sabe quando nasceu. Tronco curvado, Mandava faz um enorme esforço para acompanhar o passo largo dos “colegas”. A sua caminhada inicia às cinco da manhã, hora que deixa a casa, no bairro do Zimpeto. Na “boleia” dos Transportes Públicos de Maputo, o ancião chega à cidade por volta das seis horas.

Os pontos por si preferidos são as Avs. 25 de Setembro e Eduardo Mondlane, e conta porquê. “Há muitas lojas de indianos e eles tratam-nos muito bem”.

Mandava teve cinco filhos, mas todos desapareceram. “A minha esposa morreu e os meus filhos abandonaram-me para a África do Sul”, diz.

Os idosos lamentam estar a disputar as oportunidades com jovens, que são mais lestos, cobrindo muitas lojas em tão pouco tempo, sendo que quando os “madalas” lá chegam já não há nada.

As facilidades concedidas pelos TPM para os idosos, tendo em conta que não pagam, incentiva a alguns anciãos da Manhiça e Boane também a escalarem a capital para pedir esmola.
"Não tenho ninguém", Altina Novela


ESTAMOS LONGE DE SATISFAZER AS NECESSIDADES DESTE GRUPO

O DIRECTOR nacional da Acção Social, Miguel Maússe, descreve a situação de mendicidade no país como bastante preocupante. “A questão é que a gente vê os problemas, implementa soluções possíveis, mas estes persistem, o que nos leva a crer que a resposta passa necessariamente pelo desenvolvimento.

Disse que no dia em que o país tiver uma economia minimamente forte estará numa outra fase de poder garantir a distribuição de riqueza por todos, sublinhando que a mendicidade está associada ao nível de desenvolvimento económico do país.

Sobre o papel da Acção Social na assistência às camadas desfavorecidas, o nosso entrevistado disse que a sua instituição possui um conjunto de programas que têm como objectivo ajudar os mais necessitados, mas porque os problemas são muitos em relação aos recursos disponíveis o resultado pouco se vê.

Maússe explicou que o sector que dirige procura atingir um grupo específico, de que fazem parte as crianças. Primeiro, devido à idade, mas também aquelas em situação difícil, concretamente as que vivem na rua vítimas de violência e que precisam de amparo.

O nosso entrevistado disse também que neste grupo estão os portadores de deficiência, que muitas vezes são excluídos devido à sua condição física. Estes geralmente não têm acesso aos serviços e outros são mantidos fechados dentro de casa por familiares, que sentem vergonha de os ter.

Os idosos formam outro grupo prioritário. Estes têm sido vítimas de situações de violência e estigma, que se manifestam através de acusação de feitiçaria, expropriação de bens, violência física e psicológica.

Os outros grupos atendidos pela Acção Social são os tóxico-dependentes, reclusos, doentes crónicos e outras pessoas em situação de extrema pobreza. “Estes são os grupos alvos da área da Acção Social. A nossa responsabilidade é garantir que todos aqueles que trabalham em prol da assistência a estes grupos, em diferentes áreas, façam o seu papel, mas também temos a responsabilidade de garantir a assistência social, reintegração social, familiar e comunitária e de cumprimento dos direitos e de restauração da dignidade dessas pessoas”, afirmou.


IDENTIFICAR OS MAIS POBRES ENTRE OS POBRES

O MINISTÉRIO, através do Instituto Nacional de Acção Social (INAS), desenvolve vários programas, como o de geração de rendimentos e o subsídio de alimentos, para apoiar diferentes grupos de pessoas necessitadas.

O programa de geração de rendimentos está direccionado a pessoas incapacitadas para o trabalho. Cerca de 90 porcento dos beneficiários deste programa são idosos e 10 porcento deficientes. Atribui-se ao membro elegível 100 mil meticais, sobre o qual se adiciona 50 porcento do valor para outros membros, até o máximo de cinco membros, totalizando 350,00 meticais por mês.

Segundo Miguel Maússe, alguns idosos que andam pelas ruas às sextas-feiras recebem esse valor. O nosso interlocutor considera haver um esforço da parte do Governo para melhorar a situação desta camada social, indicando o acréscimo de 70,00 para 100,00 meticais do subsídio de alimentos.

“Continuamos a trabalhar com os parceiros e o Ministério das Finanças no sentido de se adaptar o subsídio à medida da alteração do salário mínimo, mas é preciso chamar atenção para o facto de que a economia do país não suporta este ajustamento, por isso não tem sido fácil tomar esta decisão”.

Moçambique tem cerca de 20 milhões de habitantes e, destes, milhão e oitocentos são idosos. O MMAS não possui o número exacto de idosos necessitados e vulneráveis, mas a verdade, segundo Miguel Maússe, é que não existe capacidade para assistir a todos os (idosos) necessitados. O subsídio de alimentos alcança apenas 178.458 beneficiários em todo o país.
Miguel Maússe


CENTROS COMUNITÁRIOS ABERTOS COMO SOLUÇÃO

OS centros comunitários abertos são uma estratégia adoptada pelo Governo em 2003. Estes dizem respeito à criação, dentro das comunidades, de locais onde as pessoas idosas e outras vulneráveis possam desenvolver actividades de geração de rendimentos, alfabetização, convívio, e acima de tudo trocar experiências de vida entre eles.

Pretende-se com estes centros que as pessoas que tenham algo, no lugar de oferecer na rua, canalizem apoios para estes locais.

É que os idosos deambulam pela cidade, formam longas bichas nas lojas para receber um pão seco ou 50 centavos (o preço do pão simples varia de dois meticais a sete meticais).

Neste momento equipas da Acção Social estão a trabalhar nas cidades e em bairros periféricos para fazer o levantamento de pessoas que se dedicam à mendicidade. A ideia é saber a que famílias pertencem e por que estão na rua. “Estamos também a dotar os centros abertos de meios para cativar este grupo”, indicou a nossa fonte.

Aquele quadro do INAS reconhece que algo falhou na implementação dos centros comunitários. “Falhámos na implementação da estratégia, porque em algum momento ficou-se na ideia de que os centros abertos eram locais para distribuição de comida e então houve um grande afluxo, até de pessoas que não eram elegíveis e assim não tivemos capacidade para responder à demanda”, afirmou, salientando que a situação obrigou ao encerramento do projecto em 2007 e para uma reorganização.

Os centros foram reabertos em Abril último, mas com uma nova estrutura, passando a ter um funcionário que está lá a tempo inteiro. Este garante o funcionamento diário do local. Antes os centros eram assegurados apenas por elementos da comunidade. “Agora, o sucesso do funcionamento dos centros não depende de nós, mas da mudança de mentalidade da sociedade, porque enquanto houverem pessoas que continuam a dar esmola nas ruas os mendigos vão primeiro escalar as rua e só depois é que irão aos centros abertos”, afirmou, indicando que o município tem também a responsabilidade de criar uma postura camarária que possa regrar a presença de mendigos na cidade-capital.

Fonte: ZOl, Quarta, 29 Setembro 2010 06:18

sexta-feira, setembro 17, 2010

“Mão-de-obra nacional incapacitada para impulsionar desenvolvimento”

O director executivo da Associação Industrial de Moçambique (AIMO), Elias Come, disse esta quarta-feira, em Maputo, que a mão-de-obra nacional não está devidamente preparada para impulsionar o desenvolvimento das empresas moçambicanas por forma a garantir a sua competitividade a nível nacional e internacional.
Come, que falava a imprensa para anunciar a realização, a 22 de Setembro corrente, de uma conferência sobre a competitividade industrial, disse que das auscultações feitas pela AIMO às indústrias nacionais constatou-se que as mesmas se deparam com problemas de falta de técnicos que respondem às necessidades específicas das suas firmas.
“Temos que ter uma mão-de-obra que impulsione o desenvolvimento das nossas empresas. A nossa mão-de-obra não está preparada para ser um motor de crescimento de empresas, temos mais pessoas disponíveis para serem mandadas do que para executar de forma independente as tarefas”, sustentou Come na conferência de imprensa.
“Basicamente as empresas dizem que é difícil encontrar, a bom preço, localmente, técnicos que respondam às necessidades específicas das tecnologias e o tipo de indústria que nós temos. É preciso encontrar soluções”, acrescentou.
Questionado sobre as medidas imediatas para pôr cobro à falta de técnicos qualificados, Come respondeu que a mão-de-obra está a ser um custo para os industriais e que é urgente que se encontre uma solução.
“A mão-de-obra está a ser um custo para nós os industriais e é urgente que a gente encontre uma solução. Como soluções imediatas, neste momento, cada empresa vai se arranjando. Mas é esta situação que não devemos manter. O que acontece é que algumas empresas acabam optando em importar a mão-de-obra e com constrangimentos tais como a Lei de trabalho, mesmo no processo de integração, ambientação e diferença de culturas”, defendeu Come.
Para Come, a solução definitiva para este problema só poderá ser encontrada após a realização da conferência, na qual se espera que venham tomar parte representantes do Governo, sector privado, parceiros, académicos e outras partes interessadas.
A AIMO é uma associação que representa as empresas industriais. Foi fundada em 1989 por homens de negócios em representação de empresas líderes de mercado que pretendiam que a indústria se unisse para melhorar as condições de negócio em Moçambique.

Fonte: O pais/AIM , Quinta, 16 Setembro 2010 14:13

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: Moçambique cumpre metas na Educação mas fracassa na Saúde

Moçambique espera cumprir três das metas definidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, e admite ainda atingir outras dez, mas fracassa na redução da mortalidade materna e no acesso universal ao tratamento da Sida.

Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) foram criados em 2000 e estabelecem oito grandes objectivos, divididos por 21 metas e 60 indicadores de desenvolvimento, que 190 países se comprometem a alcançar até 2015.

O cumprimento dos ODM será debatido na 65.ª Sessão da Assembleia-geral da ONU, em Nova Iorque, já no próximo dia 22.

O Presidente Armando Guebuza diz que Moçambique "alcançou importantes avanços rumo às metas do milénio" e dá o exemplo da Educação, onde "as admissões ao ensino primário atingiram níveis de crescimento sólidos".

Na Saúde, há já pelo menos um médico por cada distrito do país, também "há hoje mais mulheres em postos de chefias no Governo (28,5 por cento do executivo), e a disparidade de género das admissões e conclusões no ensino primário reduziu significativamente", diz Armando Guebuza no relatório que Moçambique leva à ONU e a que a Agência Lusa teve acesso.

Moçambique, com 80 porcento da população a viver em pobreza absoluta em 1990, terá de reduzir aquele valor para 40 porcento em 2015, para atingir o primeiro dos oito objectivos: Erradicar a pobreza extrema e a fome. Mas segundo os últimos dados disponíveis (2008-09) está 54,7 por cento, com tendência para se manter.

Taxas de crescimento baixas ou nulas da produtividade agrícola, alterações climáticas, crise internacional e Sida podem, segundo dados oficiais, ser razões para a pobreza não diminuir. Ainda assim o Governo acredita que pode cumprir o objectivo.

Atingir a educação primária universal é outro dos objectivos (o segundo) onde Moçambique é apontado como um caso de sucesso pela ONU. Números oficiais indicam que actualmente 81 por cento das crianças em idade escolar estão a frequentar a escola. A Educação absorve 21 porcento do Orçamento de Estado.

Também na igualdade do género e autonomia da mulher, o país deverá cumprir a meta de uma rapariga-um rapaz na escola. Em 2005, segundo dados do Ministério da Educação, havia 45,7 porcento de raparigas na escola, passando para 47,2 em 2009. No ensino primário a percentagem era idêntica, no final de 2008.

A Saúde, com três dos oito grandes objectivos, é que tem metas mais difíceis de atingir. Ivo Garrido, ministro da Saúde, já admitiu que o país dificilmente atingirá a quinta meta, de redução em três quartos da mortalidade materna, embora possa reduzir a mortalidade infantil para os números propostos.

Na mortalidade de menores de cinco anos, a meta é 108 por mil nados vivos, e está em 138, na mortalidade de menores de um ano a meta é 67 em 2015 e está em 93. Já no rácio de mortalidade materna por 100.000 nados vivos, a meta a atingir em 2015 é 250, e Moçambique se ficava por 579, em 2008, mais do dobro.

Em relação à Sida, o último inquérito indica uma taxa de prevalência de 11,5 porcento, o que mostra que houve estagnação. Na malária há uma taxa de mortalidade de 47 porcento, quando a meta a atingir em 2015 é a dos 35 porcento. E na tuberculose, para atingir as metas, Moçambique teria de reduzir de 298 para 149 o número de casos por cada 100.000 habitantes, e reduzir de 36 para 18 mortes pelo mesmo número de habitantes.

Na área da sustentabilidade a meta poderá ser atingida, mas para isso o país terá de chegar a 70 porcento da população com água potável (está em 57 porcento) e a 50 porcento com saneamento básico (está em 45 por cento). Segundo o relatório a que a Lusa teve acesso tem vindo a aumentar o consumo de substâncias nocivas ao ambiente, mas tem também sido controlado o desflorestamento e criadas áreas protegidas (de 11 para 16 porcento do território nacional).

Na criação de uma parceria global para o desenvolvimento (objectivo oito) o Governo salienta o bom desempenho económico do país, a contenção da dívida e o aumento do acesso a tecnologias de informação, para dizer que a meta pode ser cumprida.

De resto o executivo moçambicano diz que "potencialmente" pode atingir todos os objectivos. Improvável mesmo só na redução da mortalidade materna (no objectivo cinco) e no acesso a tratamentos para a Sida (no objectivo seis).

Fonte:(RM/Lusa)16/09/2010

Indice de pobreza multidimensional: Moçambique em quantas andas!

Embora reconheça a utilidade do índice de pobreza multidimensional (IPM), adoptado pela “Oxford Poverty & Human Development Initiative”, julgo que há necessidade também de se procurar encontrar evidência que indica que as pessoas pobres identificadas pelo IPM não são necessariamente as mesms que os pobres identificados pelo critério da dimensão de rendimentos.
Mas os resultados obtidos são intuitivos, pois com clareza demonstra que a África Subsariana tem a maior incidência de pobreza, na Ásia do Sul se encontra o maior número de pessoas vivendo na pobreza. Depois encontramos nos Estados árabes e do leste Ásiatico, pobreza tanto na incidência e em número. Em seguida, estão América Latina e no Caribe, sendo que depois constituem regiões com menos pobres, a Europa.
Se lhe disser que partes significativas dos 20 Milhões de Moçambicanos fazem parte dos 421 milhões de pessoas a viverem com a pobreza multidimensional aguda nos 26 países africanos mais pobres [Cote d’Ivoire, Gambia, Zâmbia, Chade, Mauritânia, Tanzânia, Nigéria, Senegal, Malawi, DR Congo, Comoros, Benin, Madagáscar, Ruanda, Angola, Moçambique, Libéria, Serra Leoa, Guinea, Republica Centro Africana, Somália, Burundi, Burkina Faso, Mali, Etiópia e Níger], questionara, mas constitui a verdade.
Se tens motivo de questionamento, julgo que será bom lhe facultar um dado curioso. E de entre vários dados curiosos, que vieram a superfície com o estudo “Acute Multidimensional Poverty: A New Index for Developing Countries”, no que diz respeito ao sector da educação, Moçambique consta dos únicos sete países da africa sub sahariana em que mais que 50% dos agregados familiares não possuem ninguém que tenha completado cinco anos de educação básica.
Os restantes países são, Guinea, Burundi, Mali, Etiópia, Burkina Faso, e Níger. E, outro facto curioso, que encontra resposta e explicação dadas pela Universidade de Oxford, é há mais pobres em certos estados da Índia do que na África sub sahariana. E se logo a seguir lhe acrescentarem que, bem vistas as coisas, o mundo tem, afinal, mais 400 milhões de pobres do que os 1,3 mil milhões até agora calculados, pedirá, certamente, mais explicações.
O número de pobres em oito estados da Índia, entre os quais Bihar, Uttar Pradesh e Bengala Ocidental, foi calculado pelo IPM em 421 milhões de pessoas contra 410 milhões nos 26 países africanos mais pobres. O estudo “Acute Multidimensional Poverty: A New Index for Developing Countries”, remete a conclusão de que embora a pobreza seja indubitavelmente um fenómeno multidimensional, a necessidade de ordenar países leva a que uma representação escalar da pobreza seja indispensável.
Os resultados obtidos fornecem informações específicas para a priorização de políticas públicas em diversos países, incluindo Moçambique. Com a informação de em quais dimensões pode-se decidir melhor sobre a alocação de recursos dentro do País, focalizando naqueles problemas considerados importantes. Esse é um grande avançometodológico em relação a outros tipos de mensuração da pobreza, que não reflectem julgamentos normativos feitos em relação a provisão dos serviços essências básicos e ou abordagem das necessidades básicas, porque considera o acesso dos indivíduos aos bens públicos em geral.
Com esta visão mais ampla da pobreza, surge a percepção de que a redução da pobreza requer providências públicas intersectoriais integradas. Mas tenho que confessar que também ressaltam certas inquietações, pois a cada passo do processo de construção do índice de pobreza multidimensional (IPM) proposto pela “Oxford Poverty & Human Development Initiative” surgem dilemas tais como:
Quais as dimensões mais relevantes?
Quais devem ser as variáveis adoptadas no contexto moçambicano e seus pesos?
Qual deve ser o método de agregação das dimensões da pobreza?
Como agregar a pobreza de todas as pessoas?
Ao se comparar dois índices distintos, mesmo que estes sejam compostos pelas mesmas dimensões ou mesmas variáveis, o peso de cada variável pode diferir, assim como os métodos de agregação. Seguramente, o primeiro passo na construção de uma medida de combate a pobreza consiste sempre em definir quais dimensões são as mais relevantes e quais devem ser os indicadores utilizados para representar cada uma.
De todas as etapas do processo de construção de um indicador de pobreza multidimensional, este é um dos que a literatura menos avançou. Das respostas ate hoje encontradas ao combate a pobreza em Moçambique, o índice de pobreza multidimensional (IPM), poderá ajudar ao Governo e instituições a “identificar as famílias e grupos mais vulneráveis e permite compreender com exactidão as suas privações”, pelo que julgo ser legitimo indagar agora, em quantas andamos tendo em consideração que os cerca de 1,7 mil milhões, vive na chamada “pobreza multidimensional” são superiores aos anteriores 400 milhões de pessoas aos que estão em situação de pobreza “extrema”, segundo os critérios do Banco Mundial.


Escrito por Diario da Zambezia Quarta, 11 Agosto 2010 11:36

quinta-feira, setembro 16, 2010

Apesar do défice: Trigo produzido em Manica não tem compradores

Pelo menos sete toneladas de trigo produzido na província de Manica, centro de Moçambique, na campanha agrícola passada, não foram comercializadas devido a falta de mercado.

Segundo o director da Agricultura em Manica, Dinis Lissave, citado pelo jornal “Diário de Moçambique”, com a falta de mercado, as sete mil toneladas de trigo servem como alimento em diversos pontos da província onde se registou défice de produção de outros cereais.

Esta situação acontece quando a produção de trigo em Moçambique corresponde a apenas cinco por cento das suas necessidades anuais do país. Com efeito, o consumo nacional de trigo é de 437 mil toneladas por ano e o país produz apenas 22 mil toneladas, o que significa haver um défice de cerca de 400 mil toneladas.

Em princípios deste mês, as cidades de Maputo e Matola foram palcos de manifestações violentas que culminaram com a morte de 13 pessoas e o ferimento de outras mais de 150.

Nestes actos, que também se alastraram pelas cidades de Chimoio, Beira e Tete, os manifestantes protestavam contra o agravamento das tarifas de água e de electricidade bem como do preço do pão.

A tentativa do agravamento do preço do pão resultava da subida do valor de compra de trigo no mercado internacional, situação que em parte se deve ao banimento das exportações de trigo por parte da Rússia.

Entretanto, Moçambique sofre porque não tem trigo e também sofre porque não consegue encaminhar a pouca produção nacional deste cereal.

Os dados reportados pelo “Diário de Moçambique” ilustram que a produção de trigo na província de Manica tem estado a aumentar nos últimos anos. Com efeito, na campanha agrícola 2007/2008, a província produziu 1.132 toneladas, quantidade que subiu em mais de 200 por cento em duas épocas agrícolas.

Os cerca de dois mil agricultores dos distritos de Báruè, Gondola, Manica, Mossurize e Sussundenga empenhados nesta cultura de rendimento perspectivam uma produção de 8.350 toneladas na presente campanha agrícola.

Entretanto, ainda há um problema sério na cadeia deste produto, particularmente na componente de comercialização. Os agricultores conseguiram comercializar a produção da campanha 2007/2008, mas agora já não encontram mercado para este cereal.

E parece que o problema ainda vai prevalecer: “até ao momento, ainda não temos garantias sobre quem, de facto, vai se responsabilizar pela compra do trigo produzido na nossa província na presente campanha agrícola que termina no final do próximo mês”, disse Lissave.

As autoridades provinciais não afastam a possibilidade da falta de mercado vir a desencorajar os produtores de trigo a continuarem a apostar nesta cultura de rendimento que tanta falta faz ao país.

Aliás, o director da Agricultura disse que o Governo, tanto aos níveis provincial e central, estão a trabalhar no sentido de ultrapassar o actual problema.

“Na verdade, estamos com muita produção em mão que tem de encontrar mercado de forma a assegurar que os produtores possam intervir com segurança nas próximas campanhas”, disse ele.

Fonte:(RM/AIM)
15-09-2010

Moçambique aposta nas energias renováveis para um desenvolvimento sustentável

O Governo moçambicano aposta nas energias limpas e renováveis para assegurar um desenvolvimento económico e social sustentável e garantir a eficiência energética sobretudo nas zonas rurais onde vive a maioria dos moçambicanos sem acesso a corrente eléctrica.

O facto foi reconhecido hoje em Maputo pelo vice-Ministro da Energia, Jaime Himede, tendo adiantado que o Executivo tem como dever encorajar o sector privado a dinamizar as acções para que esta ideia ganhe corpo, tendo em conta que as energias renováveis podem acelerar a geração de rendimentos sem gastos avultados.

Himede falava no acto de lançamento do Programa de Parceria de Energia Ambiental da Africa Austral e Oriental, uma plataforma que conta com apoio financeiro da Finlândia com 8.5 milhões de euros e da Austrália com um milhão para financiar estudos de viabilidade de projectos apresentados.

Nestas duas regiões africanas, a iniciativa que lança a 2ª ronda a 27 de Setembro corrente depois de na primeira ter disponibilizado 2.5 milhões de euros somente para financiar estudos de viabilidade de projectos, contempla oito países nomeadamente, Moçambique, Botswana, Tanzânia, Lesotho, Suazilândia, Zâmbia, Africa do Sul e Namíbia.

Os projectos propostos, segundo o ministro, devem estar centrados em acções viradas para a geração de renda e com modelos que adoptem tecnologias que poupem energia para a economia doméstica e que permitam a redução do impacto ambiental negativo do uso tradicional do carvão vegetal.

“Moçambique dispõe de um potencial bastante vasto para a implementação de projectos desta natureza que deve ser aproveitado para conter os efeitos das mudanças climáticas”, disse Himede, destacando que nesta iniciativa o Governo tem o papel de facilitador.

Moçambique tem como prioridades, na área de energias renováveis, continuar a incentivar o uso de novos modelos para a produção de carvão vegetal que permitam reduzir o desflorestamento, energia solar, eólica, biomassa e desenvolver tecnologias hídricas para impulsionar a agricultura e a indústria de pequena escala nas zonas rurais.

Fonte: Radio Moçambique
http://www.radiomocambique.com/rm/
15/09/2010 -

domingo, setembro 12, 2010

Os sem vergonha ainda se atrevem a chamar a isto desenvolvimento?

Beira (Canalmoz) - É preciso conseguir olhar para o cenário nacional e determinar o que está sendo feito e como está sendo feito.
Não se pode pretender desenvolver um país quando tudo o que se faz nele resulta da pressão e imposição de agendas que na sua generalidade estão contra os genuínos interesses de um país.
O alinhamento total do governo nacional para com as pretensões dos investidores estrangeiros numa perspectiva de obtenção de um desenvolvimento económico rápido e centrado na implementação de mega-projectos tem conseguido apresentar resultados estatísticos impressionantes. Mas nada disso se traduziu numa melhoria da qualidade de vida e do poder aquisitivo da larga maioria dos moçambicanos.
Numa situação em que as considerações estratégicas dos governos poderosos passaram a ser observadas e acomodadas com rapidez servil esvazia-se a soberania e coloca-se todo um povo na condição de sujeito dominado e controlado por interesses externos.
Através de uma política de investimento estrangeiro desprovida de mecanismos de protecção do interesse nacional somas significativas de fundos são continuamente drenadas para as capitais ocidentais em nome da exportação legal dos lucros das operações se suas corporações. O país fica com migalhas e quando as crises arrebentam surgem falsas surpresas.
Onde está a capacidade nacional de pensar e acautelar os interesses nacionais? Onde está o governo e que estratégia possui o governo para abordar e tomar as decisões que fazem parte das suas responsabilidades?
Ser governo plenamente obediente ao que dizem os especialistas das instituições multilaterais financeiras e dançar ao som de uma música que se mostra indigesta para os cidadãos não é certamente a melhor fórmula de governar um país. As dificuldades de financiamento dos orçamentos nacionais para executar actividades com reflexos e impactos necessários não deve constituir a justificação para uma política cega de abertura do país a tudo e todos.
Quem quer governar e ser governo deve possuir capacidade de apresentar soluções que sirvam os governados de seu país.
É visível a fraqueza de muitos argumentos apresentados pelos nossos governantes. A miscelânea de justificações quase sempre baseadas numa alegada escassez de recursos não convence nem pode ser aceite como válida porque volta e meia são os mesmos governantes que não conseguem mostrar a mais básica austeridade na utilização dos recursos disponíveis.
É sobretudo a incapacidade de traçar planos de utilização dos recursos nacionais que coloca o país na rota da pobreza crónica.
Há uma constante recusa de abordar os dossiers nacionais de maneira transparente e abrangente. Elegeu-se a confiança política como critério supremo de escolha e atribuição de cargos sensíveis na governação. Não interessa se os titulares dos cargos públicos tenham domínio tecnológico sobre os seus pelouros e que tenham demonstrado alguma competência técnica. Basta que sejam de confiança política. Isso tem sido afirmado por altos dignitários do regime e por membros de seu partido. E agora que existe crise e problemas graves na condução de assuntos sociais e económicos estes defensores de um sistema que já provocou muitas vítimas não devem “fugir com o rabo a seringa”. Quando há problemas há que pelo menos ter a coragem de mostrar a cara e dizer que somos parte do problema na medida em que não conseguimos apresentar as soluções requeridas.
Onde estão todos os nomeados através do critério da confiança política? Que fizeram e o que aconselharam para as coisas não chegassem ao extremo em que chegaram? Onde estão os brilhantes especialistas do Ministério de Finanças, do Banco de Moçambique, do Ministério de Agricultura, do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Onde está liderança e a clarividência?
Estas e outras são perguntas que tem de ser corajosamente respondidas por quem se diz governo.
O exclusivismo com que os detentores do poder tem tratado da coisa e causa nacional mostra claramente sinais de falência. Agora os culpados procuram “sacudir a água de seus capotes” e desaparecer estrategicamente da cena e dos holofotes da comunicação social. Já ninguém, se atreve a aparecer com a capa de guru e das instituições nacionais pertinentes não há sinais de mudança de atitude nem de postura.
Aparentemente o que safou o governo foram mais uma vez mais as forças policiais que travaram manifestações disparando indiscriminadamente para seus concidadãos.
Nota-se mesmo com os “olhos fechados” um vazio de ideias e de liderança no país. Parece que os nossos governantes passaram o tempo todo acautelando seus interesses privados e desenvolvendo suas actividades privadas paralelas. O tempo destinado a pensar quase que não existe e quando existe resume-se a repetição de políticas que se tem provado nefastas e desajustadas para a realidade nacional.
Enquanto houver resistência ao diálogo e política de cegueira e surdez estratégicas não se resolvem os problemas do país.
Enquanto navegavam na crista da onda e colhiam os dividendos de políticas insidiosas de inspiração externa diziam-se e pareciam sábios infalíveis.
Mas os castelos, que haviam construído à custa de incontáveis sacrifícios de milhões, estão ruindo. As teorias que ex-funcionários do banco Mundial estrategicamente instalados no governo durante décadas implementaram não foram mais do que abrir o país ao capital financeiro internacional. Mas sem contrapartidas viáveis. Foi a obediência pura e simples instalada como política oficial. Nada de novo do ponto de vista teórico. Antes e em quase todo o mundo tais políticas eminentemente da Escola de Economia de Chicago já haviam sido postas em prática e com os miseráveis resultados que agora se observam em Moçambique. Os “Chicago Boys & Girls” de Maputo não são nenhuma eminência intelectual ou política como os factos se encarregam de demonstrar. Todo o seu projecto ruiu. Ficaram as mansões e os carros de luxo, uma força de repressão mais bem equipada ainda que continue um ‘tigre de papel’, um parlamento obediente e cumpridor das instruções recebidas, e uma massa popular descontente, insatisfeita vivendo numa miséria insuportável. E neste quadro, alguns, sem vergonha, atrevem-se de chamar a isto desenvolvimento...

Fonte: canalmoz(Noé Nhantumbo)2010-09-10 06:30:00

Politização de cargos públicos impede desenvolvimento


Maputo (Canalmoz) – A nomeação de pessoas para cargos públicos com base na confiança política, e não na competência, impede o desenvolvimento do país e deixa muitos moçambicanos desmotivados na contribuição do crescimento do país. Quem o afirma é o académico e presidente do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO), Manuel de Araújo, para quem este problema foi trazido pela administração de Armando Guebuza.
“Me importaria menos se a politização dos cargos públicos tivesse uma dose de competência”.
A referida politização, segundo Manuel de Araújo, faz com que determinadas pessoas que nada sabem duma determinada área, sejam colocadas como responsáveis dessa mesma área, a nível nacional. “Infelizmente, verificamos que agrónomos são colocados a gerir polícias, sindicalistas a traçar estratégias agrícolas, pescadores a construir estradas e pontes, professores a plantar batatas e assim por diante”, diz.
Manuel de Araújo, que também já foi deputado na Assembleia da República pela bancada da Renamo, prefere chamar a isso de “Nova Escola de Liderança Guebuziana”.
Isso, segundo explicou, cria problemas, uma vez que desmotiva os quadros dos sectores que tem que falar e receber ordens de “analfabetos técnicos”. De acordo com o académico Manuel Araújo, em países com uma cultura institucional isso não é grave, mas em países como o nosso, onde ainda estamos a construir as instituições, as implicações para o processo de governação são gravíssimas.

A nossa economia

Manuel de Araújo diz que a nossa economia sofre de problemas estruturais graves que precisam de uma reformulação estratégica e infelizmente o que temos vindo a verificar é a repetição dos mesmos erros e falhas, desde 1975.
“Tanto com o Plano Prospectivo Indicativo, com o PRE, o PRES, como com os Planos Quinquenais, temos evitado tomar passos radicais que transformariam a natureza dos problemas estruturais que a nossa economia enfrenta”, disse.
Araújo acrescentou que actualmente temos estratégias sectoriais que não dialogam. “Por exemplo, na agricultura promovemos a cultura do tabaco e na saúde combatemos o consumo do tabaco! Faz sentido? No Interior aumentamos o preço dos vistos de entrada e no turismo promovemos a vinda de turistas! Faz sentido?”. Questiona.
Para Manuel de Araújo, precisamos de uma estratégia global dialogante, onde os sectores dialoguem mutuamente. A estratégia industrial deve dialogar e basear-se na estratégia da pecuária e/ou agrícola. “Cada estratégia sectorial deve começar onde termina a outra, e não deve ter objectivos conflituantes, ou como acontece actualmente”, disse.

Fonte: canalmoz(Matias Guente)

Politização de cargos públicos impede desenvolvimento

Maputo (Canalmoz) – A nomeação de pessoas para cargos públicos com base na confiança política, e não na competência, impede o desenvolvimento do país e deixa muitos moçambicanos desmotivados na contribuição do crescimento do país. Quem o afirma é o académico e presidente do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO), Manuel de Araújo, para quem este problema foi trazido pela administração de Armando Guebuza.
“Me importaria menos se a politização dos cargos públicos tivesse uma dose de competência”.
A referida politização, segundo Manuel de Araújo, faz com que determinadas pessoas que nada sabem duma determinada área, sejam colocadas como responsáveis dessa mesma área, a nível nacional. “Infelizmente, verificamos que agrónomos são colocados a gerir polícias, sindicalistas a traçar estratégias agrícolas, pescadores a construir estradas e pontes, professores a plantar batatas e assim por diante”, diz.
Manuel de Araújo, que também já foi deputado na Assembleia da República pela bancada da Renamo, prefere chamar a isso de “Nova Escola de Liderança Guebuziana”.
Isso, segundo explicou, cria problemas, uma vez que desmotiva os quadros dos sectores que tem que falar e receber ordens de “analfabetos técnicos”. De acordo com o académico Manuel Araújo, em países com uma cultura institucional isso não é grave, mas em países como o nosso, onde ainda estamos a construir as instituições, as implicações para o processo de governação são gravíssimas.

A nossa economia

Manuel de Araújo diz que a nossa economia sofre de problemas estruturais graves que precisam de uma reformulação estratégica e infelizmente o que temos vindo a verificar é a repetição dos mesmos erros e falhas, desde 1975.
“Tanto com o Plano Prospectivo Indicativo, com o PRE, o PRES, como com os Planos Quinquenais, temos evitado tomar passos radicais que transformariam a natureza dos problemas estruturais que a nossa economia enfrenta”, disse.
Araújo acrescentou que actualmente temos estratégias sectoriais que não dialogam. “Por exemplo, na agricultura promovemos a cultura do tabaco e na saúde combatemos o consumo do tabaco! Faz sentido? No Interior aumentamos o preço dos vistos de entrada e no turismo promovemos a vinda de turistas! Faz sentido?”. Questiona.
Para Manuel de Araújo, precisamos de uma estratégia global dialogante, onde os sectores dialoguem mutuamente. A estratégia industrial deve dialogar e basear-se na estratégia da pecuária e/ou agrícola. “Cada estratégia sectorial deve começar onde termina a outra, e não deve ter objectivos conflituantes, ou como acontece actualmente”, disse.

Fonte: canalmoz(Matias Guente)