segunda-feira, outubro 11, 2010

Migrantes são os primeiros a sofrer com a recessão

Os trabalhadores migrantes são os que mais estão a sofrer com a recessão económica mundial, sugere um relatório elaborado pelo Instituto de Política de Migração, em Washington, encomendado pelo Serviço Mundial da BBC.

O documento, sobre as tendências de migração em 2010 indica que a crise global gerou igualmente uma "pausa" no fluxo de pessoas para os países ricos.

Os trabalhadores estrangeiros são agora duas vezes mais susceptíveis de estarem desempregados do que trabalhadores locais.

Mas apesar do fosso nos números do desemprego entre locais e estrangeiros, as remessas enviadas pelos emigrantes para as suas famílias nos países de origem sofreu uma queda, no ano passado, inferior à prevista, e é esperado que as remessas voltem a aumentar.

Migração 'congelada'

O relatório indica ainda que "o total da imigração para os países desenvolvidos decresceu rapidamente após o estalar da crise, estancando quase na totalidade o crescimento rápido das populações nascidas no estrangeiro nas últimas três décadas".


Em Espanha, os imigrantes representam um em cada seis trabalhadores, mas actualmente representam um em cada quatro desempregados.


Instituto de Política de Migração, MPI

Em resultado disto registou-se ainda, aponta o documento, um declínio acentuado nos níveis da imigração ilegal. O número de trabalhadores estrangeiros que tentam entrar ilegalmente na União Europeia por via marítima caíu mais de 40% entre 2008 e 2009 e continua em tendência decrescente.

Ao mesmo tempo, o número de migrantes ilegais oriundos do México e apreendidos na fronteira com os Estados Unidos decresceu a níveis semelhantes.

Imigração legal

Mas a imigração legal também se ressentiu com a crise. Os fluxos migratórios para a República da Irlanda, proveniente dos mais recentes membros da União Europeia do centro e leste da Europa, caíram em cerca 60% entre 2008 e 2009.

Durante o mesmo período, os Estados Unidos assistiram a uma queda de 50% no número de vistos emitidos a trabalhadores agrícolas pouco qualificados e sazonais, como o pessoal da apanha da fruta e legumes.


A polémica estalou em França com a expuslão de ciganos romenos

Só que a difícil conjuntura económica está igualmente a afectar aqueles trabalhadores migrantes há mais tempo a viver nos países desenvolvidos.

Em Espanha, por exemplo, a recessão afectou profundamente a população migrante, diz o estudo.

No final de 2007, indica o relatório, 12,4% dos imigrantes em Espanha encontravam-se no desemprego, acima dos 7,9% de espanhóis desempregados. Em meados de 2010, após o estalar da crise no sector da construção civil, estes valores tinham subido para 30,2% e 18,1% respectivamente.

"Em Espanha, os imigrantes representam um em cada seis trabalhadores, mas actualmente representam um em cada quatro desempregados", destaca o relatório.

As razões apontadas são os nichos do mercado laboral, mais vulneráveis à crise, onde os imigrantes se tendem a concentrar.

Migrantes 'resistentes'

O contexto na Grã-Bretanha é ligeiramente diferente.

Segundo o relatório, um crescimento económico robusto e uma maior abertura à imigração económica, ajudou a trazer os números da população estrangeira para níveis recorde - 13% da população total, no momento em que a crise imobiliária teve início, em 2007.

Ainda assim, os novos imigrantes da Europa central e de leste, que chegaram ao país desde 2005, têm sido pouco afectados pelo aumento no desemprego.

"O influxo recorde de imigrantes não conduziu a níveis de desemprego catastróficos entre eles, em parte devido à influência dos trabalhadores do leste europeu que representam uma grande proporção da imigração mas provaram ser bastante resistentes à recessão", pode ler-se no documento, que sugere ainda que estes trabalhadores estão a "criar mais raízes permanentes e a formar famílias no Reino Unido".

Mas nem todas as comunidades imigrantes se deram tão bem como as provenientes da Europa de Leste.


Apesar da crise remessas dos imigrantes continuam robustas

Em especial os imigrantes africanos e do Paquistão/Bangladesh viram os níveis de desemprego atingir o máximo de sempre, há um ano, rondando os 14% e 17%, respecivamente.

Remessas em baixo

No geral os migrantes continuam a enviar para as suas famílias quase tantas remessas como antigamente.

Se durante o ano passado estas remessas caíram 9%, após uma subida em flecha antes da recessão, prevê-se hoje nova recuperação para os próximos tempos. As remessas deverão, segundo as últimas estimativas, subir 6% em 2010.

A nível regional, contudo, notam-se algumas diferenças.


Enquanto que as remessas do Sul da Ásia cresceram 4,9% no ano passado, as provenientes da Europa e da Ásia Central caíram 20,7%. Os familiares dos imigrantes das Caraíbas e da América Latina viram as suas remessas decrescer 12,3%.



Fonte: BBC 11-10-2010

Mulher de Liu Xiaobo sob prisão domiciliária


Pequim, 11 out (Lusa) - A mulher do dissidente chinês Liu Xiaobo, prémio Nobel da paz 2010, confirmou estar em prisão domiciliária em Pequim, sem poder ser contactada por telefone, numa mensagem transmitida no Twitter.

"Meus amigos, estou de regresso a casa. A 08 (outubro), fui colocada em prisão domiciliária. Ignoro quando estarei em condições de ver quem quer que seja", indicou Liu Xia, num texto publicado domingo à noite no serviço de microblogs.

A prisão domiciliária de Liu Xia já tinha sido anunciada domingo pela organização norte-americana de defesa dos direitos do Homem, Freedom Now.

"O meu telefone portátil está incontactável e não posso nem receber nem fazer chamadas", acrescentou Liu, que foi alvo de uma vigilância policial apertada nas últimas semanas.

Liu Xiaobo confirmou ter visitado o seu marido, detido numa prisão no nordeste da China, para lhe anunciar no sábado de que na sexta feira foi galardoado com o Nobel da paz.

"Vi Xiaobo, e disse-lhe a 9 (Outubro) na prisão que tinha ganho o prémio. Dir-vos-ei mais posteriormente. Por favor, sejam quem forem, ajudem-me a comunicar através do Twitter. Obrigado", prosseguiu a mensagem.

Liu Xiaobo, 54 anos, cumpre uma pena de 11 anos de prisão após ter sido um dos autores "da Carta 08", um texto que exigia uma China democrática.

Segundo a ONG Human Rights in China (HRIC), Liu Xiaobo dedicou o seu prémio às pessoas que morreram na repressão do movimento democrático da praça Tiananmen de Pequim, desencadeada pelos estudantes em 1989.

LMP

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Fonte: Lusa/Fim 11-10-2010

quinta-feira, outubro 07, 2010

Progressos desiguais dos ODM's

Líderes mundiais estão reunidos na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a discutir o seu envolvimento na redução acentuada da pobreza e da fome em todo o mundo.
A cimeira está a fazer um balanço dos progressos feitos nos oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, ODM's, adoptados há 10 anos.


Há a promessa de um redobrar de esforços para cumprir com a aplicação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015.

As Nações Unidas dizem que a cimeira de Nova Iorque é um evento de grandes expectativas.

"A via estabelecida pela cimeira vai determinar a direcção e os resultados, o sucesso ou o fracasso da totalidade do projecto dos ODM's," diz Olav Kjorven, um alto funcionário do Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD.

"Com apenas cinco anos pela frente, este é o momento da verdade para toda a comunidade internacional."

A verdade é que a pobreza foi reduzida, mas os progressos foram desequilibrados, e a maior parte dos objectivos não deverão ser alcançados no prazo estabelecido.



Um deles - a redução da pobreza global para metade - provavelmente será alcançado, em grande medida devido ao robusto crescimento económico da China e da Índia.

Mas menos foi conseguido em relação aos restantes ODM's, como por exemplo a redução da fome, a melhoria do acesso à saúde e à educação e a ajuda às mães e às crianças.

Sucessos

Muitos países têm histórias assinaláveis de sucesso.

Os agricultores africanos, por exemplo, beneficiaram muito com subsídios para a compra de sementes e de fertilizantes.

Intervenções deste tipo transformaram o Malawi de país esfomeado em 2005 a país com excedentes alimentares neste momento.

Mas também há muitos fracassos.

A fome em todo o mundo aumentou desde a adopção dos ODM's, com quase mil milhões de pessoas afectadas.

E o número de mulheres que morre anualmente durante o parto continua nas centenas de milhares, muito aquém dos ODM's para a redução das mortes maternas em 75%.

Uma das razões para o incumprimento é que, apesar dos montantes de assistência ao desenvolvimento terem aumentado na última década, as nações mais ricas não cumpriram com a promessa de canalizar 0,7% do seu Produto Interno Bruto para os países mais pobres.




Dos oito países mais industrializados do mundo, o Reino Unido é quem disponibiliza mais ajuda - 0,51%; a Itália tem o nível mais baixo de doações, com apenas 0,15%.

Os EUA participam com 0,20% do seu PIB mas, dada a dimensão da sua economia, fornecem o maior volume de assistência ao desenvolvimento.

Os países do G8 também não cumpriram com a promessa de duplicação das ajudas a África até 2010, feita na cimeira de Gleneagles, na Escócia, há cinco anos.

Segundo eles, o incumprimento ficou a deve-se à crise financeira global.

Mas, segundo o Professor Jeffrey Sachs, conselheiro do Secretário-Geral da ONU para os ODM's, já havia um défice na ajuda antes da crise financeira.

"Pode dizer-se que, desde o início, houve uma certa falta de seriedade neste processo," afirma.




"Em 2007 e em 2008 perguntava a funcionários do G8 sobre as promessas da cimeira de Gleneagles. E altos funcionários do governo alemão perguntavam-me se acreditava mesmo que essas promessas seriam honradas."

Passos práticos

O Professor Jeffrey Sachs também considera que a ajuda que é disponibilizada podia ser usada de forma mais efectiva.

Os países ricos tendem a concentrar-se nos seus próprios projectos em vez de colocar o dinheiro nos fundos globais de apoio a programa para as nações em desenvolvimento - um modelo que, segundo o Professor Sachs, mostrou ter sucesso.

Os países doadores respondem dizendo que os estados em desenvolvimento nem sempre são parceiros efectivos, devido à corrupção e à má governação.

E a ONU está a pedir aos governos no mundo em desenvolvimento que melhorem a cobrança de impostos e que se assegurem de que o crescimento económico beneficia os mais pobres.

Outra razão para o fracasso dos ODM's em muitos países pobres é a posição de inferioridade em que, tradicionalmente, são colocadas as mulheres.

As agência de auxílio dizem que é crucial que se altere esta situação porque o estatuto das mulheres tem um enorme impacto nos ODM's relacionados com as crianças, a saúde e a educação.

Devido a estes problemas sistémicos, alguns activistas querem que a cimeira de Nova Iorque tenha em conta os ODM's não como meras aspirações mas como direitos humanos ancorados em legislação, como forma de responsabilizar os governos.


E, em paralelo aos apelos a um maior cumprimento das promessas de ajuda, alguns querem também uma maior ênfase nas 'causas estruturais da pobreza global'.

Estas são vistas como sendo o peso da dívida externa no mundo em desenvolvimento e os regimes comerciais que não permitem aos países pobres desenvolver as suas economias recorrendo a políticas mais apropriadas às necessidades dos seus povos.

"Os ODM's foram úteis na mobilização de dinheiro e de energia," diz Olivier de Schutter, o Relator Especial da ONU para o Direito à Alimentação.

"Mas eles atacam os sintomas da pobreza - crianças desnutridas, mortalidade materna, prevalência do HIV - ao mesmo tempo que se mantêm em silêncio em relação às causas mais profundas do subdesenvolvimento e da fome. As estatísticas não são substitutas das políticas."

As Nações Unidas continuam a achar ser possível alcançarem-se os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015, com a combinação acertada de dinheiro, medidas e, acima de tudo, vontade política.

Mas há cepticismo, e os críticos continuam à espera de passos específicos e de planos de acção prácticos que ultrapassem a retórica.















Fonte: BBC paraAfrica, 07 de Outubro de 2010