quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Preços de alimentos subiram em Janeiro


Moçambique registou um aumento de 1,62 por cento no nível geral de preços, em Janeiro último, face ao mês de Dezembro de 2010, revelam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) anunciados esta quarta-feira, em Maputo. Os preços de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas sofreram o maior agravamento, contribuindo no nível geral dos preços com 1,18 pontos percentuais.


De acordo com Firmino Guiliche, director adjunto das contas nacionais e indicadores globais, que falava em conferencia de imprensa para apresentar o Índice de Preços no Consumidor (IPC), em relação ao período homólogo os preços de Janeiro do corrente ano registaram um agravamento na ordem de 16,2 por cento.

Para estes níveis, contribuíram as divisões de alimentação e bebidas não alcoólicas e da habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis, com variações de preços na ordem dos 20,02 e 15,86 por cento, respectivamente.

O aumento dos preços do tomate, coco, peixe fresco, congelado ou refrigerado, feijão manteiga, alface, arroz e camisas e blusas para senhoras teve impacto no total da inflação mensal.

Estes dados vêm contrariar aquela que devia ser a tendência dos preços no mês de Janeiro depois do período das festas de Natal e de Fim-de-Ano.

Para Guiliche, esta situação deriva do facto de em Janeiro as famílias terem despesas com a educação, nomeadamente: matrículas material escolar e uniforme. “As dimensões de educação e transporte também têm implicações no consumo das famílias e, portanto, nos preços. Desde 2010 verifica-se a tendência de não redução de preços em Janeiro, como era costume” frisou.

De salientar que no que concerne à educação, devido à crise de vagas nas escolas públicas, muitas famílias acabam optando por colocar os seus educandos em escolas privadas, o que tem as suas implicações nos gastos efectuados.

Enquanto isso, devido à carência de transporte, sobretudo na cidade de Maputo, cada membro de uma família acaba gastando o dobro ou triplo do que pagaria numa viagem por causa das ligações para chegar ao seu destino. O IPC foi elaborado tendo em conta dados recolhidos nas cidades de Maputo, Beira (Sofala) e Nampula.

Segundo Guiliche, a cidade de Maputo registou maior variação dos preços em Janeiro passado, na ordem de 2,05 por cento, seguido de Nampula com um aumento de 1,29 por cento. A cidade da Beira foi a que registou uma variação moderada, de 0,94 por cento.

De referir que o IPC de Janeiro deste ano apresenta algumas mudanças: introdução de mais 81 produtos, recolha semanal, mensal e periódica de dados, aumento do numero de lojas e mercados avaliados.

Por outro lado, houve incremento do total de observações e realização de estimativas automatizada para dados casos de preços não observados.



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Escrito por AIM
Quinta, 17 Fevereiro 2011 08:36

sábado, fevereiro 12, 2011

Novo Código de Estrada: Excesso de velocidade passa a custar prisão

UM novo Código de Estrada deve entrar em vigor ainda este ano visando actualizar as regras que respondam ao crescimento do parque automóvel, que reúna legislação dispersa, agrave os valores das multas e harmonize com as regras da região.


Dentre outras disposições, o novo Código de Estrada, que deve entrar em vigor no segundo semestre, estabelece que a velocidade máxima dos veículos ligeiros fora das localidades passa para 120 quilómetros/hora (agora é 80km/h) e o excesso é punido com multas que vão até oito mil meticais e prisão de 3 dias a 3 meses quando se exceda ao dobro da que é permitida.\

O director-adjunto do Instituto Nacional de Viação, Jorge Miambo, disse que o limite máximo de velocidade em 120 quilómetros por hora é praticamente uma harmonização com a região. As sanções deverão ser agravadas e graduadas em função do excesso que poderá ocorrer.

Nos termos deste dispositivo, aprovado semana passada pelo Conselho de Ministros, elimina-se a prioridade à direita, que é prática, e vai prevalecer que todos no entroncamento param e arranca o que tenha chegado primeiro, mais ou menos, como acontece na região. Para o efeito, todos os entroncamentos terão stop. Nos locais onde não há sinalização passa a ser definida pelo primeiro a chegar.

Para além do álcool ao volante, o novo código proíbe o uso de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas. A multa pelo uso de estupefacientes pode ir até 2000,00 meticais. Para quem consumir mais de 0,71 miligramas por litro a multa pode ir até 5 mil meticais e pode dar cadeia até seis meses, para além da inibição de conduzir por um período de um ano. Tolerância zero continua para os condutores de veículos de transporte público de passageiros.

Outra novidade é o facto de passar-se a dispor sobre o tempo de condução e descanso para os condutores e a proibição da comercialização de veículos com volante à esquerda.

Serão penalizados por 3000,00 meticais os condutores que obstruírem as vias. Nos termos do novo código, a poluição do solo e do ar passam a ser punidos com multas até 750,00 meticais. A poluição sonora varia duma pena de 750,00 meticais a prisão do condutor até três meses quando ultrapasse 20 decibéis e 500,00 pelo arremesso de qualquer objecto para o exterior.

De acordo com a nossa fonte, o dispositivo proíbe igualmente o uso de qualquer tipo de auscultadores sonoros, de aparelhos radiotelefónicos e televisores.

Introduz, igualmente, a mediação como mecanismo extra-judicial para a resolução de conflitos que resultem de acidentes de viação, o que passa pela manifestação, por escrito, pelos envolvidos.

O dispositivo prevê que sempre que o valor da multa seja superior a dez mil meticais pode a mesma ser paga em prestações mensais não inferiores a mil meticais. Este instrumento entra em vigor 180 dias após a sua publicação no Boletim da República. Durante este período, segundo Jorge Miambo, segue um processo de divulgação a todos os níveis para que seja conhecida e bem interpretada.

Maputo, Sábado, 12 de Fevereiro de 2011:: Notícias

Mais de 4 mil empresas contra pobreza urbana







MAIS de 4500 empresas formais devem ser estabelecidas nos próximos cinco anos, no quadro de um programa da iniciativa do Governo, em parceria com o sector empresarial, respondendo aos desafios do emprego ou ocupação da maioria dos jovens que vivem nas áreas urbanas.


A fase piloto do programa, apresentada quinta-feira em Maputo pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), começa a ser implementada ainda este trimestre, abrangendo jovens das cidades do Maputo e Matola.

Avaliado em cerca de 14 milhões de dólares norte-americanos, financiados por empresas participadas pelo Estado, públicas, privadas e parceiros de cooperação internacional, o programa (Pró Empresa Jovem) deverá criar pelo menos 30 mil empregos formais.

Segundo o Presidente do Conselho de Administração do IGEPE, Hipólito Hamela, as empresas nacionais irão contribuir para o estabelecimento do fundo com pelo menos dois milhões de dólares, sendo que outros 12 milhões serão conseguidos junto dos parceiros internacionais, os quais já manifestaram interesse em contribuir para o programa.

Aliás, algumas empresas participadas já começaram a dar a sua contribuição para esta iniciativa como forma de assegurar os 500 mil dólares necessários para o arranque do processo.

O programa pretende alterar o actual cenário, em que algumas iniciativas nacionais de desenvolvimento são lideradas por organismos internacionais ou organizações não-governamentais. Pelo menos é este o espírito que o Primeiro-Ministro, Aires Aly, transmitiu quando em Setembro se reuniu com empresas para falar da necessidade de encontrar formas de ocupar os jovens das áreas urbanas.

Hipólito Hamela explicou que a iniciativa pretende ser um complemento ao programa de combate à pobreza urbana, nomeadamente a extensão dos sete milhões para as cidades.

“Já temos uma boa indicação das empresas participadas pelo Estado. A nossa intenção neste momento é mobilizar 500 mil dólares para começar com o programa”, referiu Hamela.

Para esta iniciativa conta-se com a experiência do GAPI, uma instituição financeira com alguma tradição no apoio a pequenas e médias empresas.

“A ideia é dar instrumentos aos jovens para iniciar os seus negócios, pela via do auto-emprego ou pela via da criação de pequenas e médias empresas”.


Entretanto, alguns participantes ao acto de apresentação entendem que o programa deve identificar com maior precisão o seu público-alvo, privilegiando o financiamento de projectos passíveis de criar riqueza para o país.

Outros ainda são da opinião que na fase de implementação se deve aproveitar a experiência das agências de desenvolvimento já instituídas em algumas províncias, evitando a proliferação de instituições que acabam concorrendo para a mesma missão.

Maputo, Sábado, 12 de Fevereiro de 2011:: Notícias

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Como 'comprar' uma noiva na África do Sul?


Estou sentado no meu carro, numa tranquila estrada no Soweto, impaciente.
Ao meu lado, o meu amigo Mpho conta piadas para tentar aliviar a tensão.

Lá fora, consigo ver uma longa fila de bungalows. Cada um tem um portão de aço e as paredes pintadas de forma brilhante. Nos caminhos impecavelmente limpos, há BMWs e Mercedes estacionados.

Hoje em dia grande parte do Soweto parece um subúrbio bastante acolhedor. Bem distante das batalhas anti-apartheid, entre 1970 e 1980.

O meu telemóvel toca. É uma mensagem de Bra Gugu. Um dos meus negociadores.

"Está tudo tratado", diz.

Começo a sentir um misto de alívio e adrenalina.

Depois Gugu e a equipa aparecem ao portão. Atrás deles, a silhoueta alta e magra de Kutlwano - a mulher que acabei de comprar. De acordo com os costumes locais, somos marido e mulher.

À maneira africana

Aqui, na África do Sul, chamam-lhe lobola ou bohali. Mas a tradição de pagar o dote pela mulher com cabeças de gado existe por toda a África.

Quando conheci Kutlwano, há dois anos, a tradição soou-me arcaica e, de alguma forma, degradante para as mulheres.

Mas percebi o quão importante é por estas bandas e o quão séria é vista.

Quando eu conheci a mulher com quem queria casar, percebi que tinha que fazer as coisas à maneira africana - e esperando conquistar o respeito da família dela.

Bohali não é um procedimento simples. É um processo longo, complexo e com muitas regras - que variam consoante a tribo e inclinações das famílias envolvidas.


Os noivos com a mãe de Christian e um dos seus amigo que fez o negócio

O meu primeiro dever era escrever uma carta ao pai dela, informando que a minha família tencionava visitá-lo.

Mas a carta tinha que ser escrita em língua soto do sul, pela minha mãe, que é inglesa e não fala uma palavra em soto do sul.

Inicialmente, o pai da Kut não estava inclinado a ceder. Mas lá concordou que a minha mãe lhe enviasse um e-mail, em inglês.

Ela disse-lhe que iria nomear uma equipa de sul-africanos para negociarem o casamento em seu nome.

Eu escolhi Bra Dan, um amigo que é da mesma tribo que a família da Kut. É um operador bastante inteligente e bom no trato com as pessoas.

Também pedi a um camaraman meu amigo, Gugu, e a outros dois colegas, Ezra e Connie - todos de tribos diferentes.

Preço elevado

Mesmo a Kutlano estava entusiasmada, mas também estava preocupada que a sua família exigisse um preço muito elevado por ela.

Ela é formada, linda e não tem filhos. Tudo isso eleva o preço a pagar. E as pessoas por aqui tendem a pensar que os estrangeiros brancos são ricos. (Coisa que eu não sou).

A Kutlwano falou em privado com a sua mãe. E tivemos a indicação de que não nos devíamos preocupar. O preço seria justo, e não baseado na minha nacionalidade.

Em Leicester, na minha cidade em Inglaterra, os casais de raças diferentes são banais. Mas na África do Sul são ainda bastante raros.

As pessoas ficam a olhar para nós se caminhamos em espaços públicos de mãos dadas, ainda que a maioria fique apenas intrigada.

Quando saímos para fazer compras, as jovens mulheres negras perguntam baixinho à Kut como conseguem conhecer homens brancos.


Amostra dos trajes usados na cerimónia

Aparentemente temos reputação de sermos dedicados e de tomarmos conta de quem gostamos.

A raça é ainda uma questão complexa na África do Sul. Mas percebemos que a maioria das pessoas são bastante abertas e calorosas.

"Vale cada uma das vaca"

Finalmente, foi marcada uma data para a negociação.

Do lado de fora da casa da Kut, a família dela deixou a minha equipa à espera propositadamente uma boa meia hora.

Uma táctica tradicional. Finalmente, eles entraram sem mim. Trocaram-se garrafas de whisky, e chegou-se a um acordo no preço de cada vaca.

Mesmo nas zonas sul africanas modernas e urbanas, a vaca continua a ser a unidade de negócio.

Depois começou a fase de propostas.

Na África do Sul, é considerada falta de educação falar abertamente sobre quanto custa uma mulher. Portanto, vamos dizer que custou-me um rebanho. E valeu casa vaca.

Mas ainda não chegámos ao fim da cerimónia do casamento.

Doze semanas depois, estou de volta à mesma rua do Soweto. Desta vez tenho colocado um chapéu em forma de candeeiro tradicional da região, tenho vestido um fato de linho branco e tenho calçadas sandálias castanhas. Não é o meu estilo habitual.

Danço desajeitadamente rua abaixo - o meu cortejo canta canções em soto do sul e ri-se da minha falta de jeito.

Toda a vizinhança está na rua, a cantar e a gritar palavras de felicitações.

Quando chego a casa da Kut, dirijo-me à parede onde estão várias pessoas encostadas à volta dela. Puxo-a da família dela para a minha, completando o ritual.

As mulheres gritam de alegria e os homens riem muito alto e mexem uma bebida caseira muito forte - Mqombothi.

É uma verdadeira recepção na township (aldeamento). E, de repente, sinto-me em casa.



Fonte: Christian Parkinson (...que se casarsa pelos costumes do soweto)
Correspondente da BBC no Soweto, 02/02/2011