quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Preços de alimentos subiram em Janeiro


Moçambique registou um aumento de 1,62 por cento no nível geral de preços, em Janeiro último, face ao mês de Dezembro de 2010, revelam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) anunciados esta quarta-feira, em Maputo. Os preços de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas sofreram o maior agravamento, contribuindo no nível geral dos preços com 1,18 pontos percentuais.


De acordo com Firmino Guiliche, director adjunto das contas nacionais e indicadores globais, que falava em conferencia de imprensa para apresentar o Índice de Preços no Consumidor (IPC), em relação ao período homólogo os preços de Janeiro do corrente ano registaram um agravamento na ordem de 16,2 por cento.

Para estes níveis, contribuíram as divisões de alimentação e bebidas não alcoólicas e da habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis, com variações de preços na ordem dos 20,02 e 15,86 por cento, respectivamente.

O aumento dos preços do tomate, coco, peixe fresco, congelado ou refrigerado, feijão manteiga, alface, arroz e camisas e blusas para senhoras teve impacto no total da inflação mensal.

Estes dados vêm contrariar aquela que devia ser a tendência dos preços no mês de Janeiro depois do período das festas de Natal e de Fim-de-Ano.

Para Guiliche, esta situação deriva do facto de em Janeiro as famílias terem despesas com a educação, nomeadamente: matrículas material escolar e uniforme. “As dimensões de educação e transporte também têm implicações no consumo das famílias e, portanto, nos preços. Desde 2010 verifica-se a tendência de não redução de preços em Janeiro, como era costume” frisou.

De salientar que no que concerne à educação, devido à crise de vagas nas escolas públicas, muitas famílias acabam optando por colocar os seus educandos em escolas privadas, o que tem as suas implicações nos gastos efectuados.

Enquanto isso, devido à carência de transporte, sobretudo na cidade de Maputo, cada membro de uma família acaba gastando o dobro ou triplo do que pagaria numa viagem por causa das ligações para chegar ao seu destino. O IPC foi elaborado tendo em conta dados recolhidos nas cidades de Maputo, Beira (Sofala) e Nampula.

Segundo Guiliche, a cidade de Maputo registou maior variação dos preços em Janeiro passado, na ordem de 2,05 por cento, seguido de Nampula com um aumento de 1,29 por cento. A cidade da Beira foi a que registou uma variação moderada, de 0,94 por cento.

De referir que o IPC de Janeiro deste ano apresenta algumas mudanças: introdução de mais 81 produtos, recolha semanal, mensal e periódica de dados, aumento do numero de lojas e mercados avaliados.

Por outro lado, houve incremento do total de observações e realização de estimativas automatizada para dados casos de preços não observados.



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Escrito por AIM
Quinta, 17 Fevereiro 2011 08:36

sábado, fevereiro 12, 2011

Novo Código de Estrada: Excesso de velocidade passa a custar prisão

UM novo Código de Estrada deve entrar em vigor ainda este ano visando actualizar as regras que respondam ao crescimento do parque automóvel, que reúna legislação dispersa, agrave os valores das multas e harmonize com as regras da região.


Dentre outras disposições, o novo Código de Estrada, que deve entrar em vigor no segundo semestre, estabelece que a velocidade máxima dos veículos ligeiros fora das localidades passa para 120 quilómetros/hora (agora é 80km/h) e o excesso é punido com multas que vão até oito mil meticais e prisão de 3 dias a 3 meses quando se exceda ao dobro da que é permitida.\

O director-adjunto do Instituto Nacional de Viação, Jorge Miambo, disse que o limite máximo de velocidade em 120 quilómetros por hora é praticamente uma harmonização com a região. As sanções deverão ser agravadas e graduadas em função do excesso que poderá ocorrer.

Nos termos deste dispositivo, aprovado semana passada pelo Conselho de Ministros, elimina-se a prioridade à direita, que é prática, e vai prevalecer que todos no entroncamento param e arranca o que tenha chegado primeiro, mais ou menos, como acontece na região. Para o efeito, todos os entroncamentos terão stop. Nos locais onde não há sinalização passa a ser definida pelo primeiro a chegar.

Para além do álcool ao volante, o novo código proíbe o uso de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas. A multa pelo uso de estupefacientes pode ir até 2000,00 meticais. Para quem consumir mais de 0,71 miligramas por litro a multa pode ir até 5 mil meticais e pode dar cadeia até seis meses, para além da inibição de conduzir por um período de um ano. Tolerância zero continua para os condutores de veículos de transporte público de passageiros.

Outra novidade é o facto de passar-se a dispor sobre o tempo de condução e descanso para os condutores e a proibição da comercialização de veículos com volante à esquerda.

Serão penalizados por 3000,00 meticais os condutores que obstruírem as vias. Nos termos do novo código, a poluição do solo e do ar passam a ser punidos com multas até 750,00 meticais. A poluição sonora varia duma pena de 750,00 meticais a prisão do condutor até três meses quando ultrapasse 20 decibéis e 500,00 pelo arremesso de qualquer objecto para o exterior.

De acordo com a nossa fonte, o dispositivo proíbe igualmente o uso de qualquer tipo de auscultadores sonoros, de aparelhos radiotelefónicos e televisores.

Introduz, igualmente, a mediação como mecanismo extra-judicial para a resolução de conflitos que resultem de acidentes de viação, o que passa pela manifestação, por escrito, pelos envolvidos.

O dispositivo prevê que sempre que o valor da multa seja superior a dez mil meticais pode a mesma ser paga em prestações mensais não inferiores a mil meticais. Este instrumento entra em vigor 180 dias após a sua publicação no Boletim da República. Durante este período, segundo Jorge Miambo, segue um processo de divulgação a todos os níveis para que seja conhecida e bem interpretada.

Maputo, Sábado, 12 de Fevereiro de 2011:: Notícias

Mais de 4 mil empresas contra pobreza urbana







MAIS de 4500 empresas formais devem ser estabelecidas nos próximos cinco anos, no quadro de um programa da iniciativa do Governo, em parceria com o sector empresarial, respondendo aos desafios do emprego ou ocupação da maioria dos jovens que vivem nas áreas urbanas.


A fase piloto do programa, apresentada quinta-feira em Maputo pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), começa a ser implementada ainda este trimestre, abrangendo jovens das cidades do Maputo e Matola.

Avaliado em cerca de 14 milhões de dólares norte-americanos, financiados por empresas participadas pelo Estado, públicas, privadas e parceiros de cooperação internacional, o programa (Pró Empresa Jovem) deverá criar pelo menos 30 mil empregos formais.

Segundo o Presidente do Conselho de Administração do IGEPE, Hipólito Hamela, as empresas nacionais irão contribuir para o estabelecimento do fundo com pelo menos dois milhões de dólares, sendo que outros 12 milhões serão conseguidos junto dos parceiros internacionais, os quais já manifestaram interesse em contribuir para o programa.

Aliás, algumas empresas participadas já começaram a dar a sua contribuição para esta iniciativa como forma de assegurar os 500 mil dólares necessários para o arranque do processo.

O programa pretende alterar o actual cenário, em que algumas iniciativas nacionais de desenvolvimento são lideradas por organismos internacionais ou organizações não-governamentais. Pelo menos é este o espírito que o Primeiro-Ministro, Aires Aly, transmitiu quando em Setembro se reuniu com empresas para falar da necessidade de encontrar formas de ocupar os jovens das áreas urbanas.

Hipólito Hamela explicou que a iniciativa pretende ser um complemento ao programa de combate à pobreza urbana, nomeadamente a extensão dos sete milhões para as cidades.

“Já temos uma boa indicação das empresas participadas pelo Estado. A nossa intenção neste momento é mobilizar 500 mil dólares para começar com o programa”, referiu Hamela.

Para esta iniciativa conta-se com a experiência do GAPI, uma instituição financeira com alguma tradição no apoio a pequenas e médias empresas.

“A ideia é dar instrumentos aos jovens para iniciar os seus negócios, pela via do auto-emprego ou pela via da criação de pequenas e médias empresas”.


Entretanto, alguns participantes ao acto de apresentação entendem que o programa deve identificar com maior precisão o seu público-alvo, privilegiando o financiamento de projectos passíveis de criar riqueza para o país.

Outros ainda são da opinião que na fase de implementação se deve aproveitar a experiência das agências de desenvolvimento já instituídas em algumas províncias, evitando a proliferação de instituições que acabam concorrendo para a mesma missão.

Maputo, Sábado, 12 de Fevereiro de 2011:: Notícias

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Como 'comprar' uma noiva na África do Sul?


Estou sentado no meu carro, numa tranquila estrada no Soweto, impaciente.
Ao meu lado, o meu amigo Mpho conta piadas para tentar aliviar a tensão.

Lá fora, consigo ver uma longa fila de bungalows. Cada um tem um portão de aço e as paredes pintadas de forma brilhante. Nos caminhos impecavelmente limpos, há BMWs e Mercedes estacionados.

Hoje em dia grande parte do Soweto parece um subúrbio bastante acolhedor. Bem distante das batalhas anti-apartheid, entre 1970 e 1980.

O meu telemóvel toca. É uma mensagem de Bra Gugu. Um dos meus negociadores.

"Está tudo tratado", diz.

Começo a sentir um misto de alívio e adrenalina.

Depois Gugu e a equipa aparecem ao portão. Atrás deles, a silhoueta alta e magra de Kutlwano - a mulher que acabei de comprar. De acordo com os costumes locais, somos marido e mulher.

À maneira africana

Aqui, na África do Sul, chamam-lhe lobola ou bohali. Mas a tradição de pagar o dote pela mulher com cabeças de gado existe por toda a África.

Quando conheci Kutlwano, há dois anos, a tradição soou-me arcaica e, de alguma forma, degradante para as mulheres.

Mas percebi o quão importante é por estas bandas e o quão séria é vista.

Quando eu conheci a mulher com quem queria casar, percebi que tinha que fazer as coisas à maneira africana - e esperando conquistar o respeito da família dela.

Bohali não é um procedimento simples. É um processo longo, complexo e com muitas regras - que variam consoante a tribo e inclinações das famílias envolvidas.


Os noivos com a mãe de Christian e um dos seus amigo que fez o negócio

O meu primeiro dever era escrever uma carta ao pai dela, informando que a minha família tencionava visitá-lo.

Mas a carta tinha que ser escrita em língua soto do sul, pela minha mãe, que é inglesa e não fala uma palavra em soto do sul.

Inicialmente, o pai da Kut não estava inclinado a ceder. Mas lá concordou que a minha mãe lhe enviasse um e-mail, em inglês.

Ela disse-lhe que iria nomear uma equipa de sul-africanos para negociarem o casamento em seu nome.

Eu escolhi Bra Dan, um amigo que é da mesma tribo que a família da Kut. É um operador bastante inteligente e bom no trato com as pessoas.

Também pedi a um camaraman meu amigo, Gugu, e a outros dois colegas, Ezra e Connie - todos de tribos diferentes.

Preço elevado

Mesmo a Kutlano estava entusiasmada, mas também estava preocupada que a sua família exigisse um preço muito elevado por ela.

Ela é formada, linda e não tem filhos. Tudo isso eleva o preço a pagar. E as pessoas por aqui tendem a pensar que os estrangeiros brancos são ricos. (Coisa que eu não sou).

A Kutlwano falou em privado com a sua mãe. E tivemos a indicação de que não nos devíamos preocupar. O preço seria justo, e não baseado na minha nacionalidade.

Em Leicester, na minha cidade em Inglaterra, os casais de raças diferentes são banais. Mas na África do Sul são ainda bastante raros.

As pessoas ficam a olhar para nós se caminhamos em espaços públicos de mãos dadas, ainda que a maioria fique apenas intrigada.

Quando saímos para fazer compras, as jovens mulheres negras perguntam baixinho à Kut como conseguem conhecer homens brancos.


Amostra dos trajes usados na cerimónia

Aparentemente temos reputação de sermos dedicados e de tomarmos conta de quem gostamos.

A raça é ainda uma questão complexa na África do Sul. Mas percebemos que a maioria das pessoas são bastante abertas e calorosas.

"Vale cada uma das vaca"

Finalmente, foi marcada uma data para a negociação.

Do lado de fora da casa da Kut, a família dela deixou a minha equipa à espera propositadamente uma boa meia hora.

Uma táctica tradicional. Finalmente, eles entraram sem mim. Trocaram-se garrafas de whisky, e chegou-se a um acordo no preço de cada vaca.

Mesmo nas zonas sul africanas modernas e urbanas, a vaca continua a ser a unidade de negócio.

Depois começou a fase de propostas.

Na África do Sul, é considerada falta de educação falar abertamente sobre quanto custa uma mulher. Portanto, vamos dizer que custou-me um rebanho. E valeu casa vaca.

Mas ainda não chegámos ao fim da cerimónia do casamento.

Doze semanas depois, estou de volta à mesma rua do Soweto. Desta vez tenho colocado um chapéu em forma de candeeiro tradicional da região, tenho vestido um fato de linho branco e tenho calçadas sandálias castanhas. Não é o meu estilo habitual.

Danço desajeitadamente rua abaixo - o meu cortejo canta canções em soto do sul e ri-se da minha falta de jeito.

Toda a vizinhança está na rua, a cantar e a gritar palavras de felicitações.

Quando chego a casa da Kut, dirijo-me à parede onde estão várias pessoas encostadas à volta dela. Puxo-a da família dela para a minha, completando o ritual.

As mulheres gritam de alegria e os homens riem muito alto e mexem uma bebida caseira muito forte - Mqombothi.

É uma verdadeira recepção na township (aldeamento). E, de repente, sinto-me em casa.



Fonte: Christian Parkinson (...que se casarsa pelos costumes do soweto)
Correspondente da BBC no Soweto, 02/02/2011

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Malangatana (1936 - 2011)



Malangatana Valente Ngwenya (6 de Junho de 1936, Matalana, distrito de Marracuene, Moçambique - 5 de Janeiro de 2011, Matosinhos, Portugal) foi um artista plástico e poeta moçambicano, conhecido internacionalmente pelo seu primeiro nome "Malangatana", tendo produzido trabalhos em vários suportes e meios, desde desenho, pintura, escultura, cerâmica, murais, poesia e música.

Nasceu na localidade moçambicana de Matalana. Passou a infância a ajudar a mãe na fazenda enquanto frequentava a Escola da Missão Suíça protestante, onde aprendeu a ler e a escrever e, após o seu encerramento, a Escola da Missão Católica, concluindo a terceira classe em 1948[2]. Aos 12 anos de idade, mudou-se para Lourenço Marques (atual Maputo) à procura de trabalho, tendo praticado vários ofícios humildes e acabando por em 1953 arranjar trabalho como apanhador de bolas num clube de ténis, o que lhe permitiu retomar os estudos, frequentando aulas noturnas que lhe despertaram o interesse pelas artes, onde teve como mestre o arquiteto Garizo do Carmo[2]. Um dos membros do clube de ténis, Augusto Cabral, ofereceu-lhe material de pintura e ajudou-o a vender os seus primeiros trabalhos.

Em 1958, ingressou no Núcleo de Arte, uma organização artística local, recebendo o apoio do pintor Zé Júlio. No ano seguinte, expôs a sua arte publicamente, pela primeira vez, numa exposição coletiva, passando a artista profissional graças ao apoio oferecido pelo arquiteto português Pancho Guedes, através da cedência de um espaço onde pôde criar o seu atelier e da aquisição mensal de dois quadros[2]. Em 1961, aos 25 anos, fez a sua primeira exposição individual no Banco Nacional Ultramarino[2]. Em 1963, publicou alguns dos seus poemas no jornal «Orfeu Negro» e foi incluído na «Antologia da Poesia Moderna Africana»[2].

Nessa altura, é indiciado como membro da FRELIMO, ficando preso na cadeia da Machava até ser absolvido a 23 de Março de 1966[2]. A 4 de Janeiro de 1971, foi novamente detido, a fim de esclarecer o simbolismo do quadro «25 de Setembro», exposto pouco antes no Núcleo de Arte, o que pôs em risco a sua partida para Portugal, onde obtivera uma bolsa da Fundação Gulbenkian para estudar gravura e cerâmica[2].

Depois da independência de Moçambique, foi eleito deputado em 1990, pela FRELIMO. Em 1998, foi eleito para a Assembleia Municipal de Maputo e reeleito em 2003. Participou em ações de alfabetização e na organização das aldeias comunais na Província de Nampula. Foi um dos fundadores do «Movimento Moçambicano para a Paz» e fez parte dos «Artistas do Mundo contra o Apartheid»[2].

Faleceu a 5 de Janeiro de 2011 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, Portugal[3].

[editar] Obra
A sua obra gira à volta dos acontecimentos políticos e históricos de Moçambique, focando-se até 1975 nas injustiças do colonialismo português e na luta anticolonial e, depois da independência, nos temas centrais do país, como a guerra civil. Após esse período, a sua obra começou a focar-se sobre temas mais amplos e universais, capturando a dureza da vida e os seus aspectos heróicos e, a partir dos anos 80, passando a ter um carácter mais sensual e muito marcado sobre o amor.

Ao longo dos anos, realizou imensas exposições individuais, em Moçambique, Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Cuba, Estados Unidos, Espanha, Índia, Macau, Portugal e Turquia. Tem vários murais pintados ou gravados em cimento em Maputo e fora de Moçambique. Além da pintura, é também conhecido pelas suas obras de desenho, aguarela, gravura, cerâmica, tapeçaria e escultura, encontrando-se representado em vários museus e galerias públicas, bem como em colecções privadas, por todo o mundo[2].

[editar] Prémios
Malangatana foi galardoado com a medalha Nachingwea, pela sua contribuição para a cultura moçambicana, e investido Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Em 1997, a UNESCO nomeou-o «Artista pela Paz» [4] e foi-lhe entregue o prémio Príncipe Claus.

Em 2010, recebeu o título de «Doutor Honoris Causa» pela Universidade de Évora[2] e a condecoração, atribuída pelo governo francês, de «Comendador das Artes e Letras»[5].

Malangatana foi também um dos poucos estrangeiros nomeados como membros honorários da Academia de Artes da RDA.

Referências
1.↑ Corpo de Malangatana em câmra ardente na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Canal UP (6 de Janeiro de 2011). Página visitada em 10 de Janeiro de 2011.
2.↑ a b c d e f g h i j Malangatana distinguido com doutoramento honoris causa. Ciência Hoje. Página visitada em 5 de Janeiro de 2011.
3.↑ publico.pt. Morreu o pintor moçambicano Malangatana. Página visitada em 5 de Janeiro de 2011.
4.↑ Contemporary african art - Malangatana (em inglês). Página visitada em 5 de Janeiro de 2011.
5.↑ Malangatana Comendador das Artes e Letras. Embaixada de França em Moçambique. Página visitada em 5 de Janeiro de 2011.


19/01/2011

Imigração ilegal em Moçambique é negócio


"Eles [os mandantes e maioritariamente comerciantes somalis com estabelecimentos em Nampula] não vêm ter connosco directamente.
"Enviam alguém e fazem ofertas irrecusáveis. No meu caso ofereceram o equivalente a cerca de trezentos dólares americanos por passageiro.
É muito dinheiro!", contou em exclusivo à BBC transportador moçambicano de imigrantes ilegais.

Moçambique está a tornar-se num corredor preferencial de redes internacionais de tráfico de pessoas.

Centenas de imigrantes ilegais são todas as semanas interceptados pela polícia, mas a grande maioria, cujo destino é a Àfrica do Sul, continua a iludir as autoridades.

Entrada pela costa

No fenómerno chegam a estar envolvidos elementos da polícia moçambicana e transportadores locais.

Um deles, sob promessa de anonimato, falou à BBC, para descrever como tudo se processa.

É de Nampula - no norte do país e plataforma giratória desse negócio ilícito e altamente rentável.

E, segundo contou, o ponto de entrada dos imigrantes ilegais em Moçambique dista a cerca de 600 quilómetros daquela cidade, junto à "desprotegida e pouco vigada" costa moçambicana.

"Polícias recebem mal"

A utilização de Moçambique como corredor do tráfico de pessoas levou a que a polícia decidisse investigar o eventual envolvimento de um homem de negócios de origem somali.

Portador de passaporte britânico, o mesmo foi preso recentemente na posse de duzentos mil dólares não declarados.

Enquanto isso, semanalmente continuam a ser interceptadas pela polícia centenas de cidadãos estrangeiros, na sua maioria por sinal somalis.

O nosso entrevistado indica que esta é apenas a ponta do ‘iceberg’.

As redes de tráfico de pessoas contam com o envolvimento de elementos da polícia espalhados pelos postos de controlo ao longo das vias e que para o efeito recebem subornos.

“Os polícias são seres humanos e recebem mal. Uma vez fui apanhado mas foi só entrar em contacto com o dono da ‘mercadoria’. Pagou-se e resolvemos o assunto”, contou o entrevistado.

O destino da maioria dos imigrantes é a Àfrica do Sul “e até outros países da Europa mas via Àfrica do Sul”, referiu.

Entretanto, reagindo ao alegado envolvimento da polícia com redes de tráfico de pessoas, o porta-voz da instituição em Nampula, Inácio Dina, admite que “tem havido situações do género”, mas ressalva que “os agentes envolvidos foram detidos e vão responder em juizo”.



Fonte: Eleutério Fenita
Correspondente da BBC em Maputo - 19/01/2011

ACIDENTE DE MBUZINI QUE VITIMOU SAMORA


Estados Unidos mantiveram comunicações entre Tupolev e Maputo sob escuta

– revela biografia de Pik Botha

Pretoria (Canalmoz) - As comunicações via rádio entre o Tupolev presidencial e a Torre de Controlo do Aeródromo de Maputo estiveram sob escuta dos Estados Unidos na noite do acidente de Mbuzini em que perdeu a vida o então chefe de Estado moçambicano, Samora Moisés Machel. A revelação vem contida na biografia do antigo ministro sul-africano dos negócios estrangeiros, Pik Botha, publicada em Dezembro último na África do Sul.
Segundo a autora da obra biográfica «Pik Botha and His Times», pouco depois do despenhamento do Tu-134A em Mbuzini, os investigadores da parte sul-africana receberam de entidades americanas a transcrição das referidas comunicações. A autora cita o investigador-chefe do acidente, pela parte sul-africana, como tendo dito que “os americanos mantinham a frequência sob escuta”. A frequência em causa era a do sistema de comunicações rádio de alta frequência utilizado pela Torre de Controlo do Aeroporto de Maputo para comunicar com aeronaves. O livro não fornece pormenores sobre a forma e o local onde foi efectuada a escuta, mas esta função cabe, em princípio, à NSA (National Security Agency), organismo norte-americano responsável pela recolha e análise de comunicações e transmissões em territórios estrangeiros.
Para além dessa transcrição, acrescenta a autora do livro, os investigadores sul-africanos também dispunham de outra, idêntica, obtida pela Base Aérea de Hoedspruit, situada junto à fronteira com Moçambique.
A transcrição permitiu aos investigadores de imediato detectarem falhas da tripulação do Tupolev presidencial. Efectivamente, no primeiro contacto com a Torre de Controlo do Aeroporto de Maputo, após ter entrado no espaço aéreo moçambicano, o Tupolev forneceu a hora prevista de chegada, o número de passageiros a bordo, o aeroporto de origem, e a autonomia da aeronave desde o momento de descolagem de Mbala, na Zambia. Nessa primeira comunicação, o operador de rádio do Tupolev pedia à Torre de Controlo para informar a quem de direito que “levava a bordo o No. 1”, numa referência ao Presidente Samora Machel.
Todos estes dados constam do plano de voo, que por norma deve ser efectuado antes da partida de uma aeronave. Tratando-se de um voo VIP, o plano de voo do avião transportando o presidente Samora Machel deveria ter sido efectuado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros moçambicano, com pelo menos 24 horas de antecedência. O fornecimento desses dados a cerca de 30 minutos da hora prevista de aterragem em Maputo era uma indicação clara de que a tripulação do Tu-134A não havia cumprido com um requisito elementar da navegação aérea, pondo em perigo a aeronave e a vida dos passageiros.
Posteriormente, em Moscovo, foi possível proceder à transcrição (e tradução do russo para o inglês) dos registos do gravador de cabine (CVR) do Tupolev que depois foi sincronizada com a transcrição da gravação da Torre de Controlo do Aeródromo de Maputo, ficando os investigadores com uma ideia mais clara do sucedido nos últimos 30 minutos do fatídico voo, em particular a acumulação de erros e falhas por parte da tripulação, o que viria a causar a colisão do aparelho contra os montes dos Libombos em Mbuzini. (ver transcrição integral de ambas as gravações em www.samoramachel.com/transcricaoo_CVR_ATC.pdf)

Fonte: Canalmoz (Redacção) 19/01/2011


2011-01-19 04:55:00

segunda-feira, outubro 11, 2010

Migrantes são os primeiros a sofrer com a recessão

Os trabalhadores migrantes são os que mais estão a sofrer com a recessão económica mundial, sugere um relatório elaborado pelo Instituto de Política de Migração, em Washington, encomendado pelo Serviço Mundial da BBC.

O documento, sobre as tendências de migração em 2010 indica que a crise global gerou igualmente uma "pausa" no fluxo de pessoas para os países ricos.

Os trabalhadores estrangeiros são agora duas vezes mais susceptíveis de estarem desempregados do que trabalhadores locais.

Mas apesar do fosso nos números do desemprego entre locais e estrangeiros, as remessas enviadas pelos emigrantes para as suas famílias nos países de origem sofreu uma queda, no ano passado, inferior à prevista, e é esperado que as remessas voltem a aumentar.

Migração 'congelada'

O relatório indica ainda que "o total da imigração para os países desenvolvidos decresceu rapidamente após o estalar da crise, estancando quase na totalidade o crescimento rápido das populações nascidas no estrangeiro nas últimas três décadas".


Em Espanha, os imigrantes representam um em cada seis trabalhadores, mas actualmente representam um em cada quatro desempregados.


Instituto de Política de Migração, MPI

Em resultado disto registou-se ainda, aponta o documento, um declínio acentuado nos níveis da imigração ilegal. O número de trabalhadores estrangeiros que tentam entrar ilegalmente na União Europeia por via marítima caíu mais de 40% entre 2008 e 2009 e continua em tendência decrescente.

Ao mesmo tempo, o número de migrantes ilegais oriundos do México e apreendidos na fronteira com os Estados Unidos decresceu a níveis semelhantes.

Imigração legal

Mas a imigração legal também se ressentiu com a crise. Os fluxos migratórios para a República da Irlanda, proveniente dos mais recentes membros da União Europeia do centro e leste da Europa, caíram em cerca 60% entre 2008 e 2009.

Durante o mesmo período, os Estados Unidos assistiram a uma queda de 50% no número de vistos emitidos a trabalhadores agrícolas pouco qualificados e sazonais, como o pessoal da apanha da fruta e legumes.


A polémica estalou em França com a expuslão de ciganos romenos

Só que a difícil conjuntura económica está igualmente a afectar aqueles trabalhadores migrantes há mais tempo a viver nos países desenvolvidos.

Em Espanha, por exemplo, a recessão afectou profundamente a população migrante, diz o estudo.

No final de 2007, indica o relatório, 12,4% dos imigrantes em Espanha encontravam-se no desemprego, acima dos 7,9% de espanhóis desempregados. Em meados de 2010, após o estalar da crise no sector da construção civil, estes valores tinham subido para 30,2% e 18,1% respectivamente.

"Em Espanha, os imigrantes representam um em cada seis trabalhadores, mas actualmente representam um em cada quatro desempregados", destaca o relatório.

As razões apontadas são os nichos do mercado laboral, mais vulneráveis à crise, onde os imigrantes se tendem a concentrar.

Migrantes 'resistentes'

O contexto na Grã-Bretanha é ligeiramente diferente.

Segundo o relatório, um crescimento económico robusto e uma maior abertura à imigração económica, ajudou a trazer os números da população estrangeira para níveis recorde - 13% da população total, no momento em que a crise imobiliária teve início, em 2007.

Ainda assim, os novos imigrantes da Europa central e de leste, que chegaram ao país desde 2005, têm sido pouco afectados pelo aumento no desemprego.

"O influxo recorde de imigrantes não conduziu a níveis de desemprego catastróficos entre eles, em parte devido à influência dos trabalhadores do leste europeu que representam uma grande proporção da imigração mas provaram ser bastante resistentes à recessão", pode ler-se no documento, que sugere ainda que estes trabalhadores estão a "criar mais raízes permanentes e a formar famílias no Reino Unido".

Mas nem todas as comunidades imigrantes se deram tão bem como as provenientes da Europa de Leste.


Apesar da crise remessas dos imigrantes continuam robustas

Em especial os imigrantes africanos e do Paquistão/Bangladesh viram os níveis de desemprego atingir o máximo de sempre, há um ano, rondando os 14% e 17%, respecivamente.

Remessas em baixo

No geral os migrantes continuam a enviar para as suas famílias quase tantas remessas como antigamente.

Se durante o ano passado estas remessas caíram 9%, após uma subida em flecha antes da recessão, prevê-se hoje nova recuperação para os próximos tempos. As remessas deverão, segundo as últimas estimativas, subir 6% em 2010.

A nível regional, contudo, notam-se algumas diferenças.


Enquanto que as remessas do Sul da Ásia cresceram 4,9% no ano passado, as provenientes da Europa e da Ásia Central caíram 20,7%. Os familiares dos imigrantes das Caraíbas e da América Latina viram as suas remessas decrescer 12,3%.



Fonte: BBC 11-10-2010

Mulher de Liu Xiaobo sob prisão domiciliária


Pequim, 11 out (Lusa) - A mulher do dissidente chinês Liu Xiaobo, prémio Nobel da paz 2010, confirmou estar em prisão domiciliária em Pequim, sem poder ser contactada por telefone, numa mensagem transmitida no Twitter.

"Meus amigos, estou de regresso a casa. A 08 (outubro), fui colocada em prisão domiciliária. Ignoro quando estarei em condições de ver quem quer que seja", indicou Liu Xia, num texto publicado domingo à noite no serviço de microblogs.

A prisão domiciliária de Liu Xia já tinha sido anunciada domingo pela organização norte-americana de defesa dos direitos do Homem, Freedom Now.

"O meu telefone portátil está incontactável e não posso nem receber nem fazer chamadas", acrescentou Liu, que foi alvo de uma vigilância policial apertada nas últimas semanas.

Liu Xiaobo confirmou ter visitado o seu marido, detido numa prisão no nordeste da China, para lhe anunciar no sábado de que na sexta feira foi galardoado com o Nobel da paz.

"Vi Xiaobo, e disse-lhe a 9 (Outubro) na prisão que tinha ganho o prémio. Dir-vos-ei mais posteriormente. Por favor, sejam quem forem, ajudem-me a comunicar através do Twitter. Obrigado", prosseguiu a mensagem.

Liu Xiaobo, 54 anos, cumpre uma pena de 11 anos de prisão após ter sido um dos autores "da Carta 08", um texto que exigia uma China democrática.

Segundo a ONG Human Rights in China (HRIC), Liu Xiaobo dedicou o seu prémio às pessoas que morreram na repressão do movimento democrático da praça Tiananmen de Pequim, desencadeada pelos estudantes em 1989.

LMP

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Fonte: Lusa/Fim 11-10-2010

quinta-feira, outubro 07, 2010

Progressos desiguais dos ODM's

Líderes mundiais estão reunidos na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a discutir o seu envolvimento na redução acentuada da pobreza e da fome em todo o mundo.
A cimeira está a fazer um balanço dos progressos feitos nos oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, ODM's, adoptados há 10 anos.


Há a promessa de um redobrar de esforços para cumprir com a aplicação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015.

As Nações Unidas dizem que a cimeira de Nova Iorque é um evento de grandes expectativas.

"A via estabelecida pela cimeira vai determinar a direcção e os resultados, o sucesso ou o fracasso da totalidade do projecto dos ODM's," diz Olav Kjorven, um alto funcionário do Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD.

"Com apenas cinco anos pela frente, este é o momento da verdade para toda a comunidade internacional."

A verdade é que a pobreza foi reduzida, mas os progressos foram desequilibrados, e a maior parte dos objectivos não deverão ser alcançados no prazo estabelecido.



Um deles - a redução da pobreza global para metade - provavelmente será alcançado, em grande medida devido ao robusto crescimento económico da China e da Índia.

Mas menos foi conseguido em relação aos restantes ODM's, como por exemplo a redução da fome, a melhoria do acesso à saúde e à educação e a ajuda às mães e às crianças.

Sucessos

Muitos países têm histórias assinaláveis de sucesso.

Os agricultores africanos, por exemplo, beneficiaram muito com subsídios para a compra de sementes e de fertilizantes.

Intervenções deste tipo transformaram o Malawi de país esfomeado em 2005 a país com excedentes alimentares neste momento.

Mas também há muitos fracassos.

A fome em todo o mundo aumentou desde a adopção dos ODM's, com quase mil milhões de pessoas afectadas.

E o número de mulheres que morre anualmente durante o parto continua nas centenas de milhares, muito aquém dos ODM's para a redução das mortes maternas em 75%.

Uma das razões para o incumprimento é que, apesar dos montantes de assistência ao desenvolvimento terem aumentado na última década, as nações mais ricas não cumpriram com a promessa de canalizar 0,7% do seu Produto Interno Bruto para os países mais pobres.




Dos oito países mais industrializados do mundo, o Reino Unido é quem disponibiliza mais ajuda - 0,51%; a Itália tem o nível mais baixo de doações, com apenas 0,15%.

Os EUA participam com 0,20% do seu PIB mas, dada a dimensão da sua economia, fornecem o maior volume de assistência ao desenvolvimento.

Os países do G8 também não cumpriram com a promessa de duplicação das ajudas a África até 2010, feita na cimeira de Gleneagles, na Escócia, há cinco anos.

Segundo eles, o incumprimento ficou a deve-se à crise financeira global.

Mas, segundo o Professor Jeffrey Sachs, conselheiro do Secretário-Geral da ONU para os ODM's, já havia um défice na ajuda antes da crise financeira.

"Pode dizer-se que, desde o início, houve uma certa falta de seriedade neste processo," afirma.




"Em 2007 e em 2008 perguntava a funcionários do G8 sobre as promessas da cimeira de Gleneagles. E altos funcionários do governo alemão perguntavam-me se acreditava mesmo que essas promessas seriam honradas."

Passos práticos

O Professor Jeffrey Sachs também considera que a ajuda que é disponibilizada podia ser usada de forma mais efectiva.

Os países ricos tendem a concentrar-se nos seus próprios projectos em vez de colocar o dinheiro nos fundos globais de apoio a programa para as nações em desenvolvimento - um modelo que, segundo o Professor Sachs, mostrou ter sucesso.

Os países doadores respondem dizendo que os estados em desenvolvimento nem sempre são parceiros efectivos, devido à corrupção e à má governação.

E a ONU está a pedir aos governos no mundo em desenvolvimento que melhorem a cobrança de impostos e que se assegurem de que o crescimento económico beneficia os mais pobres.

Outra razão para o fracasso dos ODM's em muitos países pobres é a posição de inferioridade em que, tradicionalmente, são colocadas as mulheres.

As agência de auxílio dizem que é crucial que se altere esta situação porque o estatuto das mulheres tem um enorme impacto nos ODM's relacionados com as crianças, a saúde e a educação.

Devido a estes problemas sistémicos, alguns activistas querem que a cimeira de Nova Iorque tenha em conta os ODM's não como meras aspirações mas como direitos humanos ancorados em legislação, como forma de responsabilizar os governos.


E, em paralelo aos apelos a um maior cumprimento das promessas de ajuda, alguns querem também uma maior ênfase nas 'causas estruturais da pobreza global'.

Estas são vistas como sendo o peso da dívida externa no mundo em desenvolvimento e os regimes comerciais que não permitem aos países pobres desenvolver as suas economias recorrendo a políticas mais apropriadas às necessidades dos seus povos.

"Os ODM's foram úteis na mobilização de dinheiro e de energia," diz Olivier de Schutter, o Relator Especial da ONU para o Direito à Alimentação.

"Mas eles atacam os sintomas da pobreza - crianças desnutridas, mortalidade materna, prevalência do HIV - ao mesmo tempo que se mantêm em silêncio em relação às causas mais profundas do subdesenvolvimento e da fome. As estatísticas não são substitutas das políticas."

As Nações Unidas continuam a achar ser possível alcançarem-se os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015, com a combinação acertada de dinheiro, medidas e, acima de tudo, vontade política.

Mas há cepticismo, e os críticos continuam à espera de passos específicos e de planos de acção prácticos que ultrapassem a retórica.















Fonte: BBC paraAfrica, 07 de Outubro de 2010







quinta-feira, setembro 30, 2010

Mendicidade: O lado visível da pobreza urbana?


O índice de mendicidade na cidade do Maputo tende a crescer. Cada dia que passa novos efectivos que procuram viver graças a pessoas de boa vontade nas artérias da capital engrossam as fileiras de mendigos, num fenómeno social complexo e cujas razões são diversas, mas que todas parecem ter origem num problema que afecta a família, célula base da sociedade. As crianças, por exemplo, alegam que são maltratadas pelos pais ou parentes, enquanto os idosos dizem não ter ninguém em casa para lhes dar de comer ou que foram expulsos da convivência familiar sob acusação de feitiçaria. E os deficientes, esses, justificam a sua decisão de recorrer à esmola ao estigma e discriminação de que são alvos na própria família.

Nos últimos tempos a “jornada” dos mendigos, sobretudo às sextas-feiras, mobiliza inclusivamente famílias inteiras e idosos vindos de pontos distantes, como Boane e Manhiça, hoje facilmente ligados à capital por autocarros dos Transportes Publicos do Maputo (TPM), nos quais gente de terceira idade não paga. As autoridades do pelouro dizem que têm lançado iniciativas para que aquele grupo social receba as ajudas em locais decentes e chama à atenção à família e à sociedade para que assumam o seu papel.

Em nome da pobreza famílias carentes chegam a envolver-se na actividade, movimentando-se para a cidade, num exercício em que crianças e deficientes são muitas vezes usados como “isca” para sensibilizar os comerciantes e os automobilistas a darem esmola.

Em plena Avenida 24 de Julho a nossa Reportagem interpelou Aida Maolele, na companhia dos seus seis filhos. O mais velho, 16 anos, e o mais novo com apenas meses de vida.

Aida conta que gostaria de abandonar a vida que está a levar, pois reconhece que em nada dignifica a si e aos seus filhos, mas não tem outra alternativa de sobrevivência. Aurélio, o primogénito, não conhece o pai e nem outro membro da família se não a mãe e os irmãos.

Com destino à baixa da cidade, Aida deixa a casa às 6.00 horas na companhia dos filhos. Uma vez na cidade, a família desdobra-se pelas principais ruas da urbe e se junta ao fim da “jornada”, entre 13.00 e 14.00 horas, numa esquina previamente combinada. “Os mais novos andam comigo, mas os restantes três sozinhos, conseguindo cada um 150,00 a 200,00 meticais. Porque são rápidos, eles conseguem alcançar um maior número de lojas”, disse Aida Maolele, afirmando que Aurélio teve que parar de estudar quando concluiu a quinta classe. Os mais novos é que continuam a frequentar a escola.

Neste exercício, ao que apurámos, os mais novos conseguem amealhar mais porque são ágeis. Os idosos reconhecem esta desvantagem, mas dizem não ter outra alternativa senão enfrentar o desafio. Também criticam alguns comerciantes, alegadamente por lhes tratar mal. “Dão-nos pão seco, 50 centavos e às vezes cones de sorvete vazias. Noutras ocasiões formamos uma longa bicha e quando chegamos à porta dizem-nos que o pão acabou e corremos para outra loja”, disse Amélia Kefasse, que desde 2006 se dedica à mendicidade na cidade do Maputo.

Natural de Gaza, a nossa interlocutora veio à capital do país em 1990 devido à guerra, na companhia do filho. “O meu marido morreu vítima da guerra, num ataque, em Chibuto, Gaza, em 1989. No ano seguinte o meu filho me levou para Maputo, só que depois me largou para a África do Sul, de onde nunca mais voltou”, disse.

Amélia Kefasse vive no bairro Khongolote, numa palhota construída em solidariedade pela comunidade. Já cansada pela idade e doença, explica que gerou três filhos, dois dos quais morreram em Gaza. “Alberto é o único que ficou, mas também me abandonou, por isso não conto mais com ele”, lamenta, para depois explicar que deixou na sua terra natal duas irmãs, mas não sabe se continuam vivas.

A sua companheira de jornada, Altina Novela, contrariamente, nunca teve filhos e não conheceu na vida qualquer casamento. “Não tenho ninguém”, desabafa Altina.

As duas idosas, com mais de 70 anos de idade, reconhecem ser dura a vida que levam, mas dizem não ter outra alternativa. Durante a semana as duas “companheiras” se dedicam à recolha de restos de verdura nos grandes mercados, reservando as sextas-feiras para a esmola, uma ginástica que lhes rende 50,00 a 60,00 meticais por semana.

Elas ainda não são beneficiárias do subsídio de alimentos, embora estejam inscritas desde o ano passado no bairro onde vivem.

Amélia e Altina conheceram-se nas duras jornadas da busca da sobrevivência. Apanhavam quase sempre o mesmo autocarro dos TPM, onde viajam sem pagar, uma vez que a idade lhes confere esse direito.

Um outro idoso que vive à base de esmola é João Mandava. Este não sabe quando nasceu. Tronco curvado, Mandava faz um enorme esforço para acompanhar o passo largo dos “colegas”. A sua caminhada inicia às cinco da manhã, hora que deixa a casa, no bairro do Zimpeto. Na “boleia” dos Transportes Públicos de Maputo, o ancião chega à cidade por volta das seis horas.

Os pontos por si preferidos são as Avs. 25 de Setembro e Eduardo Mondlane, e conta porquê. “Há muitas lojas de indianos e eles tratam-nos muito bem”.

Mandava teve cinco filhos, mas todos desapareceram. “A minha esposa morreu e os meus filhos abandonaram-me para a África do Sul”, diz.

Os idosos lamentam estar a disputar as oportunidades com jovens, que são mais lestos, cobrindo muitas lojas em tão pouco tempo, sendo que quando os “madalas” lá chegam já não há nada.

As facilidades concedidas pelos TPM para os idosos, tendo em conta que não pagam, incentiva a alguns anciãos da Manhiça e Boane também a escalarem a capital para pedir esmola.
"Não tenho ninguém", Altina Novela


ESTAMOS LONGE DE SATISFAZER AS NECESSIDADES DESTE GRUPO

O DIRECTOR nacional da Acção Social, Miguel Maússe, descreve a situação de mendicidade no país como bastante preocupante. “A questão é que a gente vê os problemas, implementa soluções possíveis, mas estes persistem, o que nos leva a crer que a resposta passa necessariamente pelo desenvolvimento.

Disse que no dia em que o país tiver uma economia minimamente forte estará numa outra fase de poder garantir a distribuição de riqueza por todos, sublinhando que a mendicidade está associada ao nível de desenvolvimento económico do país.

Sobre o papel da Acção Social na assistência às camadas desfavorecidas, o nosso entrevistado disse que a sua instituição possui um conjunto de programas que têm como objectivo ajudar os mais necessitados, mas porque os problemas são muitos em relação aos recursos disponíveis o resultado pouco se vê.

Maússe explicou que o sector que dirige procura atingir um grupo específico, de que fazem parte as crianças. Primeiro, devido à idade, mas também aquelas em situação difícil, concretamente as que vivem na rua vítimas de violência e que precisam de amparo.

O nosso entrevistado disse também que neste grupo estão os portadores de deficiência, que muitas vezes são excluídos devido à sua condição física. Estes geralmente não têm acesso aos serviços e outros são mantidos fechados dentro de casa por familiares, que sentem vergonha de os ter.

Os idosos formam outro grupo prioritário. Estes têm sido vítimas de situações de violência e estigma, que se manifestam através de acusação de feitiçaria, expropriação de bens, violência física e psicológica.

Os outros grupos atendidos pela Acção Social são os tóxico-dependentes, reclusos, doentes crónicos e outras pessoas em situação de extrema pobreza. “Estes são os grupos alvos da área da Acção Social. A nossa responsabilidade é garantir que todos aqueles que trabalham em prol da assistência a estes grupos, em diferentes áreas, façam o seu papel, mas também temos a responsabilidade de garantir a assistência social, reintegração social, familiar e comunitária e de cumprimento dos direitos e de restauração da dignidade dessas pessoas”, afirmou.


IDENTIFICAR OS MAIS POBRES ENTRE OS POBRES

O MINISTÉRIO, através do Instituto Nacional de Acção Social (INAS), desenvolve vários programas, como o de geração de rendimentos e o subsídio de alimentos, para apoiar diferentes grupos de pessoas necessitadas.

O programa de geração de rendimentos está direccionado a pessoas incapacitadas para o trabalho. Cerca de 90 porcento dos beneficiários deste programa são idosos e 10 porcento deficientes. Atribui-se ao membro elegível 100 mil meticais, sobre o qual se adiciona 50 porcento do valor para outros membros, até o máximo de cinco membros, totalizando 350,00 meticais por mês.

Segundo Miguel Maússe, alguns idosos que andam pelas ruas às sextas-feiras recebem esse valor. O nosso interlocutor considera haver um esforço da parte do Governo para melhorar a situação desta camada social, indicando o acréscimo de 70,00 para 100,00 meticais do subsídio de alimentos.

“Continuamos a trabalhar com os parceiros e o Ministério das Finanças no sentido de se adaptar o subsídio à medida da alteração do salário mínimo, mas é preciso chamar atenção para o facto de que a economia do país não suporta este ajustamento, por isso não tem sido fácil tomar esta decisão”.

Moçambique tem cerca de 20 milhões de habitantes e, destes, milhão e oitocentos são idosos. O MMAS não possui o número exacto de idosos necessitados e vulneráveis, mas a verdade, segundo Miguel Maússe, é que não existe capacidade para assistir a todos os (idosos) necessitados. O subsídio de alimentos alcança apenas 178.458 beneficiários em todo o país.
Miguel Maússe


CENTROS COMUNITÁRIOS ABERTOS COMO SOLUÇÃO

OS centros comunitários abertos são uma estratégia adoptada pelo Governo em 2003. Estes dizem respeito à criação, dentro das comunidades, de locais onde as pessoas idosas e outras vulneráveis possam desenvolver actividades de geração de rendimentos, alfabetização, convívio, e acima de tudo trocar experiências de vida entre eles.

Pretende-se com estes centros que as pessoas que tenham algo, no lugar de oferecer na rua, canalizem apoios para estes locais.

É que os idosos deambulam pela cidade, formam longas bichas nas lojas para receber um pão seco ou 50 centavos (o preço do pão simples varia de dois meticais a sete meticais).

Neste momento equipas da Acção Social estão a trabalhar nas cidades e em bairros periféricos para fazer o levantamento de pessoas que se dedicam à mendicidade. A ideia é saber a que famílias pertencem e por que estão na rua. “Estamos também a dotar os centros abertos de meios para cativar este grupo”, indicou a nossa fonte.

Aquele quadro do INAS reconhece que algo falhou na implementação dos centros comunitários. “Falhámos na implementação da estratégia, porque em algum momento ficou-se na ideia de que os centros abertos eram locais para distribuição de comida e então houve um grande afluxo, até de pessoas que não eram elegíveis e assim não tivemos capacidade para responder à demanda”, afirmou, salientando que a situação obrigou ao encerramento do projecto em 2007 e para uma reorganização.

Os centros foram reabertos em Abril último, mas com uma nova estrutura, passando a ter um funcionário que está lá a tempo inteiro. Este garante o funcionamento diário do local. Antes os centros eram assegurados apenas por elementos da comunidade. “Agora, o sucesso do funcionamento dos centros não depende de nós, mas da mudança de mentalidade da sociedade, porque enquanto houverem pessoas que continuam a dar esmola nas ruas os mendigos vão primeiro escalar as rua e só depois é que irão aos centros abertos”, afirmou, indicando que o município tem também a responsabilidade de criar uma postura camarária que possa regrar a presença de mendigos na cidade-capital.

Fonte: ZOl, Quarta, 29 Setembro 2010 06:18

sexta-feira, setembro 17, 2010

“Mão-de-obra nacional incapacitada para impulsionar desenvolvimento”

O director executivo da Associação Industrial de Moçambique (AIMO), Elias Come, disse esta quarta-feira, em Maputo, que a mão-de-obra nacional não está devidamente preparada para impulsionar o desenvolvimento das empresas moçambicanas por forma a garantir a sua competitividade a nível nacional e internacional.
Come, que falava a imprensa para anunciar a realização, a 22 de Setembro corrente, de uma conferência sobre a competitividade industrial, disse que das auscultações feitas pela AIMO às indústrias nacionais constatou-se que as mesmas se deparam com problemas de falta de técnicos que respondem às necessidades específicas das suas firmas.
“Temos que ter uma mão-de-obra que impulsione o desenvolvimento das nossas empresas. A nossa mão-de-obra não está preparada para ser um motor de crescimento de empresas, temos mais pessoas disponíveis para serem mandadas do que para executar de forma independente as tarefas”, sustentou Come na conferência de imprensa.
“Basicamente as empresas dizem que é difícil encontrar, a bom preço, localmente, técnicos que respondam às necessidades específicas das tecnologias e o tipo de indústria que nós temos. É preciso encontrar soluções”, acrescentou.
Questionado sobre as medidas imediatas para pôr cobro à falta de técnicos qualificados, Come respondeu que a mão-de-obra está a ser um custo para os industriais e que é urgente que se encontre uma solução.
“A mão-de-obra está a ser um custo para nós os industriais e é urgente que a gente encontre uma solução. Como soluções imediatas, neste momento, cada empresa vai se arranjando. Mas é esta situação que não devemos manter. O que acontece é que algumas empresas acabam optando em importar a mão-de-obra e com constrangimentos tais como a Lei de trabalho, mesmo no processo de integração, ambientação e diferença de culturas”, defendeu Come.
Para Come, a solução definitiva para este problema só poderá ser encontrada após a realização da conferência, na qual se espera que venham tomar parte representantes do Governo, sector privado, parceiros, académicos e outras partes interessadas.
A AIMO é uma associação que representa as empresas industriais. Foi fundada em 1989 por homens de negócios em representação de empresas líderes de mercado que pretendiam que a indústria se unisse para melhorar as condições de negócio em Moçambique.

Fonte: O pais/AIM , Quinta, 16 Setembro 2010 14:13

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: Moçambique cumpre metas na Educação mas fracassa na Saúde

Moçambique espera cumprir três das metas definidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, e admite ainda atingir outras dez, mas fracassa na redução da mortalidade materna e no acesso universal ao tratamento da Sida.

Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) foram criados em 2000 e estabelecem oito grandes objectivos, divididos por 21 metas e 60 indicadores de desenvolvimento, que 190 países se comprometem a alcançar até 2015.

O cumprimento dos ODM será debatido na 65.ª Sessão da Assembleia-geral da ONU, em Nova Iorque, já no próximo dia 22.

O Presidente Armando Guebuza diz que Moçambique "alcançou importantes avanços rumo às metas do milénio" e dá o exemplo da Educação, onde "as admissões ao ensino primário atingiram níveis de crescimento sólidos".

Na Saúde, há já pelo menos um médico por cada distrito do país, também "há hoje mais mulheres em postos de chefias no Governo (28,5 por cento do executivo), e a disparidade de género das admissões e conclusões no ensino primário reduziu significativamente", diz Armando Guebuza no relatório que Moçambique leva à ONU e a que a Agência Lusa teve acesso.

Moçambique, com 80 porcento da população a viver em pobreza absoluta em 1990, terá de reduzir aquele valor para 40 porcento em 2015, para atingir o primeiro dos oito objectivos: Erradicar a pobreza extrema e a fome. Mas segundo os últimos dados disponíveis (2008-09) está 54,7 por cento, com tendência para se manter.

Taxas de crescimento baixas ou nulas da produtividade agrícola, alterações climáticas, crise internacional e Sida podem, segundo dados oficiais, ser razões para a pobreza não diminuir. Ainda assim o Governo acredita que pode cumprir o objectivo.

Atingir a educação primária universal é outro dos objectivos (o segundo) onde Moçambique é apontado como um caso de sucesso pela ONU. Números oficiais indicam que actualmente 81 por cento das crianças em idade escolar estão a frequentar a escola. A Educação absorve 21 porcento do Orçamento de Estado.

Também na igualdade do género e autonomia da mulher, o país deverá cumprir a meta de uma rapariga-um rapaz na escola. Em 2005, segundo dados do Ministério da Educação, havia 45,7 porcento de raparigas na escola, passando para 47,2 em 2009. No ensino primário a percentagem era idêntica, no final de 2008.

A Saúde, com três dos oito grandes objectivos, é que tem metas mais difíceis de atingir. Ivo Garrido, ministro da Saúde, já admitiu que o país dificilmente atingirá a quinta meta, de redução em três quartos da mortalidade materna, embora possa reduzir a mortalidade infantil para os números propostos.

Na mortalidade de menores de cinco anos, a meta é 108 por mil nados vivos, e está em 138, na mortalidade de menores de um ano a meta é 67 em 2015 e está em 93. Já no rácio de mortalidade materna por 100.000 nados vivos, a meta a atingir em 2015 é 250, e Moçambique se ficava por 579, em 2008, mais do dobro.

Em relação à Sida, o último inquérito indica uma taxa de prevalência de 11,5 porcento, o que mostra que houve estagnação. Na malária há uma taxa de mortalidade de 47 porcento, quando a meta a atingir em 2015 é a dos 35 porcento. E na tuberculose, para atingir as metas, Moçambique teria de reduzir de 298 para 149 o número de casos por cada 100.000 habitantes, e reduzir de 36 para 18 mortes pelo mesmo número de habitantes.

Na área da sustentabilidade a meta poderá ser atingida, mas para isso o país terá de chegar a 70 porcento da população com água potável (está em 57 porcento) e a 50 porcento com saneamento básico (está em 45 por cento). Segundo o relatório a que a Lusa teve acesso tem vindo a aumentar o consumo de substâncias nocivas ao ambiente, mas tem também sido controlado o desflorestamento e criadas áreas protegidas (de 11 para 16 porcento do território nacional).

Na criação de uma parceria global para o desenvolvimento (objectivo oito) o Governo salienta o bom desempenho económico do país, a contenção da dívida e o aumento do acesso a tecnologias de informação, para dizer que a meta pode ser cumprida.

De resto o executivo moçambicano diz que "potencialmente" pode atingir todos os objectivos. Improvável mesmo só na redução da mortalidade materna (no objectivo cinco) e no acesso a tratamentos para a Sida (no objectivo seis).

Fonte:(RM/Lusa)16/09/2010

Indice de pobreza multidimensional: Moçambique em quantas andas!

Embora reconheça a utilidade do índice de pobreza multidimensional (IPM), adoptado pela “Oxford Poverty & Human Development Initiative”, julgo que há necessidade também de se procurar encontrar evidência que indica que as pessoas pobres identificadas pelo IPM não são necessariamente as mesms que os pobres identificados pelo critério da dimensão de rendimentos.
Mas os resultados obtidos são intuitivos, pois com clareza demonstra que a África Subsariana tem a maior incidência de pobreza, na Ásia do Sul se encontra o maior número de pessoas vivendo na pobreza. Depois encontramos nos Estados árabes e do leste Ásiatico, pobreza tanto na incidência e em número. Em seguida, estão América Latina e no Caribe, sendo que depois constituem regiões com menos pobres, a Europa.
Se lhe disser que partes significativas dos 20 Milhões de Moçambicanos fazem parte dos 421 milhões de pessoas a viverem com a pobreza multidimensional aguda nos 26 países africanos mais pobres [Cote d’Ivoire, Gambia, Zâmbia, Chade, Mauritânia, Tanzânia, Nigéria, Senegal, Malawi, DR Congo, Comoros, Benin, Madagáscar, Ruanda, Angola, Moçambique, Libéria, Serra Leoa, Guinea, Republica Centro Africana, Somália, Burundi, Burkina Faso, Mali, Etiópia e Níger], questionara, mas constitui a verdade.
Se tens motivo de questionamento, julgo que será bom lhe facultar um dado curioso. E de entre vários dados curiosos, que vieram a superfície com o estudo “Acute Multidimensional Poverty: A New Index for Developing Countries”, no que diz respeito ao sector da educação, Moçambique consta dos únicos sete países da africa sub sahariana em que mais que 50% dos agregados familiares não possuem ninguém que tenha completado cinco anos de educação básica.
Os restantes países são, Guinea, Burundi, Mali, Etiópia, Burkina Faso, e Níger. E, outro facto curioso, que encontra resposta e explicação dadas pela Universidade de Oxford, é há mais pobres em certos estados da Índia do que na África sub sahariana. E se logo a seguir lhe acrescentarem que, bem vistas as coisas, o mundo tem, afinal, mais 400 milhões de pobres do que os 1,3 mil milhões até agora calculados, pedirá, certamente, mais explicações.
O número de pobres em oito estados da Índia, entre os quais Bihar, Uttar Pradesh e Bengala Ocidental, foi calculado pelo IPM em 421 milhões de pessoas contra 410 milhões nos 26 países africanos mais pobres. O estudo “Acute Multidimensional Poverty: A New Index for Developing Countries”, remete a conclusão de que embora a pobreza seja indubitavelmente um fenómeno multidimensional, a necessidade de ordenar países leva a que uma representação escalar da pobreza seja indispensável.
Os resultados obtidos fornecem informações específicas para a priorização de políticas públicas em diversos países, incluindo Moçambique. Com a informação de em quais dimensões pode-se decidir melhor sobre a alocação de recursos dentro do País, focalizando naqueles problemas considerados importantes. Esse é um grande avançometodológico em relação a outros tipos de mensuração da pobreza, que não reflectem julgamentos normativos feitos em relação a provisão dos serviços essências básicos e ou abordagem das necessidades básicas, porque considera o acesso dos indivíduos aos bens públicos em geral.
Com esta visão mais ampla da pobreza, surge a percepção de que a redução da pobreza requer providências públicas intersectoriais integradas. Mas tenho que confessar que também ressaltam certas inquietações, pois a cada passo do processo de construção do índice de pobreza multidimensional (IPM) proposto pela “Oxford Poverty & Human Development Initiative” surgem dilemas tais como:
Quais as dimensões mais relevantes?
Quais devem ser as variáveis adoptadas no contexto moçambicano e seus pesos?
Qual deve ser o método de agregação das dimensões da pobreza?
Como agregar a pobreza de todas as pessoas?
Ao se comparar dois índices distintos, mesmo que estes sejam compostos pelas mesmas dimensões ou mesmas variáveis, o peso de cada variável pode diferir, assim como os métodos de agregação. Seguramente, o primeiro passo na construção de uma medida de combate a pobreza consiste sempre em definir quais dimensões são as mais relevantes e quais devem ser os indicadores utilizados para representar cada uma.
De todas as etapas do processo de construção de um indicador de pobreza multidimensional, este é um dos que a literatura menos avançou. Das respostas ate hoje encontradas ao combate a pobreza em Moçambique, o índice de pobreza multidimensional (IPM), poderá ajudar ao Governo e instituições a “identificar as famílias e grupos mais vulneráveis e permite compreender com exactidão as suas privações”, pelo que julgo ser legitimo indagar agora, em quantas andamos tendo em consideração que os cerca de 1,7 mil milhões, vive na chamada “pobreza multidimensional” são superiores aos anteriores 400 milhões de pessoas aos que estão em situação de pobreza “extrema”, segundo os critérios do Banco Mundial.


Escrito por Diario da Zambezia Quarta, 11 Agosto 2010 11:36

quinta-feira, setembro 16, 2010

Apesar do défice: Trigo produzido em Manica não tem compradores

Pelo menos sete toneladas de trigo produzido na província de Manica, centro de Moçambique, na campanha agrícola passada, não foram comercializadas devido a falta de mercado.

Segundo o director da Agricultura em Manica, Dinis Lissave, citado pelo jornal “Diário de Moçambique”, com a falta de mercado, as sete mil toneladas de trigo servem como alimento em diversos pontos da província onde se registou défice de produção de outros cereais.

Esta situação acontece quando a produção de trigo em Moçambique corresponde a apenas cinco por cento das suas necessidades anuais do país. Com efeito, o consumo nacional de trigo é de 437 mil toneladas por ano e o país produz apenas 22 mil toneladas, o que significa haver um défice de cerca de 400 mil toneladas.

Em princípios deste mês, as cidades de Maputo e Matola foram palcos de manifestações violentas que culminaram com a morte de 13 pessoas e o ferimento de outras mais de 150.

Nestes actos, que também se alastraram pelas cidades de Chimoio, Beira e Tete, os manifestantes protestavam contra o agravamento das tarifas de água e de electricidade bem como do preço do pão.

A tentativa do agravamento do preço do pão resultava da subida do valor de compra de trigo no mercado internacional, situação que em parte se deve ao banimento das exportações de trigo por parte da Rússia.

Entretanto, Moçambique sofre porque não tem trigo e também sofre porque não consegue encaminhar a pouca produção nacional deste cereal.

Os dados reportados pelo “Diário de Moçambique” ilustram que a produção de trigo na província de Manica tem estado a aumentar nos últimos anos. Com efeito, na campanha agrícola 2007/2008, a província produziu 1.132 toneladas, quantidade que subiu em mais de 200 por cento em duas épocas agrícolas.

Os cerca de dois mil agricultores dos distritos de Báruè, Gondola, Manica, Mossurize e Sussundenga empenhados nesta cultura de rendimento perspectivam uma produção de 8.350 toneladas na presente campanha agrícola.

Entretanto, ainda há um problema sério na cadeia deste produto, particularmente na componente de comercialização. Os agricultores conseguiram comercializar a produção da campanha 2007/2008, mas agora já não encontram mercado para este cereal.

E parece que o problema ainda vai prevalecer: “até ao momento, ainda não temos garantias sobre quem, de facto, vai se responsabilizar pela compra do trigo produzido na nossa província na presente campanha agrícola que termina no final do próximo mês”, disse Lissave.

As autoridades provinciais não afastam a possibilidade da falta de mercado vir a desencorajar os produtores de trigo a continuarem a apostar nesta cultura de rendimento que tanta falta faz ao país.

Aliás, o director da Agricultura disse que o Governo, tanto aos níveis provincial e central, estão a trabalhar no sentido de ultrapassar o actual problema.

“Na verdade, estamos com muita produção em mão que tem de encontrar mercado de forma a assegurar que os produtores possam intervir com segurança nas próximas campanhas”, disse ele.

Fonte:(RM/AIM)
15-09-2010

Moçambique aposta nas energias renováveis para um desenvolvimento sustentável

O Governo moçambicano aposta nas energias limpas e renováveis para assegurar um desenvolvimento económico e social sustentável e garantir a eficiência energética sobretudo nas zonas rurais onde vive a maioria dos moçambicanos sem acesso a corrente eléctrica.

O facto foi reconhecido hoje em Maputo pelo vice-Ministro da Energia, Jaime Himede, tendo adiantado que o Executivo tem como dever encorajar o sector privado a dinamizar as acções para que esta ideia ganhe corpo, tendo em conta que as energias renováveis podem acelerar a geração de rendimentos sem gastos avultados.

Himede falava no acto de lançamento do Programa de Parceria de Energia Ambiental da Africa Austral e Oriental, uma plataforma que conta com apoio financeiro da Finlândia com 8.5 milhões de euros e da Austrália com um milhão para financiar estudos de viabilidade de projectos apresentados.

Nestas duas regiões africanas, a iniciativa que lança a 2ª ronda a 27 de Setembro corrente depois de na primeira ter disponibilizado 2.5 milhões de euros somente para financiar estudos de viabilidade de projectos, contempla oito países nomeadamente, Moçambique, Botswana, Tanzânia, Lesotho, Suazilândia, Zâmbia, Africa do Sul e Namíbia.

Os projectos propostos, segundo o ministro, devem estar centrados em acções viradas para a geração de renda e com modelos que adoptem tecnologias que poupem energia para a economia doméstica e que permitam a redução do impacto ambiental negativo do uso tradicional do carvão vegetal.

“Moçambique dispõe de um potencial bastante vasto para a implementação de projectos desta natureza que deve ser aproveitado para conter os efeitos das mudanças climáticas”, disse Himede, destacando que nesta iniciativa o Governo tem o papel de facilitador.

Moçambique tem como prioridades, na área de energias renováveis, continuar a incentivar o uso de novos modelos para a produção de carvão vegetal que permitam reduzir o desflorestamento, energia solar, eólica, biomassa e desenvolver tecnologias hídricas para impulsionar a agricultura e a indústria de pequena escala nas zonas rurais.

Fonte: Radio Moçambique
http://www.radiomocambique.com/rm/
15/09/2010 -

domingo, setembro 12, 2010

Os sem vergonha ainda se atrevem a chamar a isto desenvolvimento?

Beira (Canalmoz) - É preciso conseguir olhar para o cenário nacional e determinar o que está sendo feito e como está sendo feito.
Não se pode pretender desenvolver um país quando tudo o que se faz nele resulta da pressão e imposição de agendas que na sua generalidade estão contra os genuínos interesses de um país.
O alinhamento total do governo nacional para com as pretensões dos investidores estrangeiros numa perspectiva de obtenção de um desenvolvimento económico rápido e centrado na implementação de mega-projectos tem conseguido apresentar resultados estatísticos impressionantes. Mas nada disso se traduziu numa melhoria da qualidade de vida e do poder aquisitivo da larga maioria dos moçambicanos.
Numa situação em que as considerações estratégicas dos governos poderosos passaram a ser observadas e acomodadas com rapidez servil esvazia-se a soberania e coloca-se todo um povo na condição de sujeito dominado e controlado por interesses externos.
Através de uma política de investimento estrangeiro desprovida de mecanismos de protecção do interesse nacional somas significativas de fundos são continuamente drenadas para as capitais ocidentais em nome da exportação legal dos lucros das operações se suas corporações. O país fica com migalhas e quando as crises arrebentam surgem falsas surpresas.
Onde está a capacidade nacional de pensar e acautelar os interesses nacionais? Onde está o governo e que estratégia possui o governo para abordar e tomar as decisões que fazem parte das suas responsabilidades?
Ser governo plenamente obediente ao que dizem os especialistas das instituições multilaterais financeiras e dançar ao som de uma música que se mostra indigesta para os cidadãos não é certamente a melhor fórmula de governar um país. As dificuldades de financiamento dos orçamentos nacionais para executar actividades com reflexos e impactos necessários não deve constituir a justificação para uma política cega de abertura do país a tudo e todos.
Quem quer governar e ser governo deve possuir capacidade de apresentar soluções que sirvam os governados de seu país.
É visível a fraqueza de muitos argumentos apresentados pelos nossos governantes. A miscelânea de justificações quase sempre baseadas numa alegada escassez de recursos não convence nem pode ser aceite como válida porque volta e meia são os mesmos governantes que não conseguem mostrar a mais básica austeridade na utilização dos recursos disponíveis.
É sobretudo a incapacidade de traçar planos de utilização dos recursos nacionais que coloca o país na rota da pobreza crónica.
Há uma constante recusa de abordar os dossiers nacionais de maneira transparente e abrangente. Elegeu-se a confiança política como critério supremo de escolha e atribuição de cargos sensíveis na governação. Não interessa se os titulares dos cargos públicos tenham domínio tecnológico sobre os seus pelouros e que tenham demonstrado alguma competência técnica. Basta que sejam de confiança política. Isso tem sido afirmado por altos dignitários do regime e por membros de seu partido. E agora que existe crise e problemas graves na condução de assuntos sociais e económicos estes defensores de um sistema que já provocou muitas vítimas não devem “fugir com o rabo a seringa”. Quando há problemas há que pelo menos ter a coragem de mostrar a cara e dizer que somos parte do problema na medida em que não conseguimos apresentar as soluções requeridas.
Onde estão todos os nomeados através do critério da confiança política? Que fizeram e o que aconselharam para as coisas não chegassem ao extremo em que chegaram? Onde estão os brilhantes especialistas do Ministério de Finanças, do Banco de Moçambique, do Ministério de Agricultura, do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Onde está liderança e a clarividência?
Estas e outras são perguntas que tem de ser corajosamente respondidas por quem se diz governo.
O exclusivismo com que os detentores do poder tem tratado da coisa e causa nacional mostra claramente sinais de falência. Agora os culpados procuram “sacudir a água de seus capotes” e desaparecer estrategicamente da cena e dos holofotes da comunicação social. Já ninguém, se atreve a aparecer com a capa de guru e das instituições nacionais pertinentes não há sinais de mudança de atitude nem de postura.
Aparentemente o que safou o governo foram mais uma vez mais as forças policiais que travaram manifestações disparando indiscriminadamente para seus concidadãos.
Nota-se mesmo com os “olhos fechados” um vazio de ideias e de liderança no país. Parece que os nossos governantes passaram o tempo todo acautelando seus interesses privados e desenvolvendo suas actividades privadas paralelas. O tempo destinado a pensar quase que não existe e quando existe resume-se a repetição de políticas que se tem provado nefastas e desajustadas para a realidade nacional.
Enquanto houver resistência ao diálogo e política de cegueira e surdez estratégicas não se resolvem os problemas do país.
Enquanto navegavam na crista da onda e colhiam os dividendos de políticas insidiosas de inspiração externa diziam-se e pareciam sábios infalíveis.
Mas os castelos, que haviam construído à custa de incontáveis sacrifícios de milhões, estão ruindo. As teorias que ex-funcionários do banco Mundial estrategicamente instalados no governo durante décadas implementaram não foram mais do que abrir o país ao capital financeiro internacional. Mas sem contrapartidas viáveis. Foi a obediência pura e simples instalada como política oficial. Nada de novo do ponto de vista teórico. Antes e em quase todo o mundo tais políticas eminentemente da Escola de Economia de Chicago já haviam sido postas em prática e com os miseráveis resultados que agora se observam em Moçambique. Os “Chicago Boys & Girls” de Maputo não são nenhuma eminência intelectual ou política como os factos se encarregam de demonstrar. Todo o seu projecto ruiu. Ficaram as mansões e os carros de luxo, uma força de repressão mais bem equipada ainda que continue um ‘tigre de papel’, um parlamento obediente e cumpridor das instruções recebidas, e uma massa popular descontente, insatisfeita vivendo numa miséria insuportável. E neste quadro, alguns, sem vergonha, atrevem-se de chamar a isto desenvolvimento...

Fonte: canalmoz(Noé Nhantumbo)2010-09-10 06:30:00

Politização de cargos públicos impede desenvolvimento


Maputo (Canalmoz) – A nomeação de pessoas para cargos públicos com base na confiança política, e não na competência, impede o desenvolvimento do país e deixa muitos moçambicanos desmotivados na contribuição do crescimento do país. Quem o afirma é o académico e presidente do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO), Manuel de Araújo, para quem este problema foi trazido pela administração de Armando Guebuza.
“Me importaria menos se a politização dos cargos públicos tivesse uma dose de competência”.
A referida politização, segundo Manuel de Araújo, faz com que determinadas pessoas que nada sabem duma determinada área, sejam colocadas como responsáveis dessa mesma área, a nível nacional. “Infelizmente, verificamos que agrónomos são colocados a gerir polícias, sindicalistas a traçar estratégias agrícolas, pescadores a construir estradas e pontes, professores a plantar batatas e assim por diante”, diz.
Manuel de Araújo, que também já foi deputado na Assembleia da República pela bancada da Renamo, prefere chamar a isso de “Nova Escola de Liderança Guebuziana”.
Isso, segundo explicou, cria problemas, uma vez que desmotiva os quadros dos sectores que tem que falar e receber ordens de “analfabetos técnicos”. De acordo com o académico Manuel Araújo, em países com uma cultura institucional isso não é grave, mas em países como o nosso, onde ainda estamos a construir as instituições, as implicações para o processo de governação são gravíssimas.

A nossa economia

Manuel de Araújo diz que a nossa economia sofre de problemas estruturais graves que precisam de uma reformulação estratégica e infelizmente o que temos vindo a verificar é a repetição dos mesmos erros e falhas, desde 1975.
“Tanto com o Plano Prospectivo Indicativo, com o PRE, o PRES, como com os Planos Quinquenais, temos evitado tomar passos radicais que transformariam a natureza dos problemas estruturais que a nossa economia enfrenta”, disse.
Araújo acrescentou que actualmente temos estratégias sectoriais que não dialogam. “Por exemplo, na agricultura promovemos a cultura do tabaco e na saúde combatemos o consumo do tabaco! Faz sentido? No Interior aumentamos o preço dos vistos de entrada e no turismo promovemos a vinda de turistas! Faz sentido?”. Questiona.
Para Manuel de Araújo, precisamos de uma estratégia global dialogante, onde os sectores dialoguem mutuamente. A estratégia industrial deve dialogar e basear-se na estratégia da pecuária e/ou agrícola. “Cada estratégia sectorial deve começar onde termina a outra, e não deve ter objectivos conflituantes, ou como acontece actualmente”, disse.

Fonte: canalmoz(Matias Guente)

Politização de cargos públicos impede desenvolvimento

Maputo (Canalmoz) – A nomeação de pessoas para cargos públicos com base na confiança política, e não na competência, impede o desenvolvimento do país e deixa muitos moçambicanos desmotivados na contribuição do crescimento do país. Quem o afirma é o académico e presidente do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO), Manuel de Araújo, para quem este problema foi trazido pela administração de Armando Guebuza.
“Me importaria menos se a politização dos cargos públicos tivesse uma dose de competência”.
A referida politização, segundo Manuel de Araújo, faz com que determinadas pessoas que nada sabem duma determinada área, sejam colocadas como responsáveis dessa mesma área, a nível nacional. “Infelizmente, verificamos que agrónomos são colocados a gerir polícias, sindicalistas a traçar estratégias agrícolas, pescadores a construir estradas e pontes, professores a plantar batatas e assim por diante”, diz.
Manuel de Araújo, que também já foi deputado na Assembleia da República pela bancada da Renamo, prefere chamar a isso de “Nova Escola de Liderança Guebuziana”.
Isso, segundo explicou, cria problemas, uma vez que desmotiva os quadros dos sectores que tem que falar e receber ordens de “analfabetos técnicos”. De acordo com o académico Manuel Araújo, em países com uma cultura institucional isso não é grave, mas em países como o nosso, onde ainda estamos a construir as instituições, as implicações para o processo de governação são gravíssimas.

A nossa economia

Manuel de Araújo diz que a nossa economia sofre de problemas estruturais graves que precisam de uma reformulação estratégica e infelizmente o que temos vindo a verificar é a repetição dos mesmos erros e falhas, desde 1975.
“Tanto com o Plano Prospectivo Indicativo, com o PRE, o PRES, como com os Planos Quinquenais, temos evitado tomar passos radicais que transformariam a natureza dos problemas estruturais que a nossa economia enfrenta”, disse.
Araújo acrescentou que actualmente temos estratégias sectoriais que não dialogam. “Por exemplo, na agricultura promovemos a cultura do tabaco e na saúde combatemos o consumo do tabaco! Faz sentido? No Interior aumentamos o preço dos vistos de entrada e no turismo promovemos a vinda de turistas! Faz sentido?”. Questiona.
Para Manuel de Araújo, precisamos de uma estratégia global dialogante, onde os sectores dialoguem mutuamente. A estratégia industrial deve dialogar e basear-se na estratégia da pecuária e/ou agrícola. “Cada estratégia sectorial deve começar onde termina a outra, e não deve ter objectivos conflituantes, ou como acontece actualmente”, disse.

Fonte: canalmoz(Matias Guente)

quinta-feira, agosto 26, 2010

Cédulas para sessenta mil crianças na zona norte

Decorre desde ontem, no distrito de Muecate, em Nampula, o processo de registo de nascimento de 30 mil crianças desprovidas de condições financeiras para custear as despesas referentes à aquisição de documentos de identificação, como o caso de cédulas.

O programa, que tem o apoio financeiro da “Visão Mundial”, irá igualmente abranger outras 30 mil crianças, desta feita no distrito de Murrupula, zonas onde opera aquela organização não-governamental. Segundo Gerson Nhancale, oficial para advocacia, “pretendemos com a iniciativa fazer com que as crianças não sejam privadas dos seus direitos de cidadania só porque não têm documento de identificação”-referiu. Para viabilizar o processo, foram formados 60 brigadistas.

Maputo, Quinta-Feira, 26 de Agosto de 2010:: Notícias

Medidas específicas para operações petrolíferas

A AVALIAÇÃO do impacto ambiental resultante das operações petrolíferas no país passa a estar sujeita a um regulamento próprio, depois da aprovação, ontem, em Maputo, pelo Conselho de Ministros do respectivo instrumento. O dispositivo prevê, entre outros aspectos, que os danos ambientais derivados das operações petrolíferas ficam a uma multa diária de dois milhões de meticais.

O instrumento, aprovado pelo Conselho de Ministros, na sua trigésima sessão ordinária, prevê medidas de prevenção, controlo, mitigação e reabilitação do ambiente, em casos de derrame de hidrocarbonetos.

De acordo com o Vice-Ministro da Justiça e porta-voz do Governo, Alberto Nkutumula, existe a constatação de que as operações petrolíferas têm conhecido um incremento no nosso país com a vinda de investidores interessados na pesquisa e produção de hidrocarbonetos.

Nesse sentido, segundo Nkutumula, porque estas operações têm certas implicações ambientais, o Conselho de Ministros aprovou um dispositivo legal que permite salvaguardar o meio ambiente, determinando um “modus operandi”.

Dentre as várias acções, segundo a fonte, o regulamento prevê multas pesadas em caso de violação das suas normas que podem ascender a dois milhões de meticais por dia.

“Olhando para o decreto que aprova a obrigatoriedade de realização de estudos de impacto ambiental para os mega-projectos, em particular, existe uma norma que indica que para as operações petrolíferas terá que ser aprovado um regulamento específico e é isto que o Conselho de Ministros fez hoje”, disse Nkutumula.

Ainda ontem o governo aprovou os termos do contrato de concessão de pesquisa e produção do petróleo para a área A, na bacia de Moçambique, à Sasol Petroleum International (PTY) Limited e à Empresa de Hidrocarbonetos (ENH, EP).

A concessão é, desta forma, atribuída à empresa que ganhou o concurso para o efeito lançado pelo Governo em Dezembro de 2007.

A empresa petroquímica Sasol foi vencedora da área localizada na parte do continente (on shore) em que o Estado moçambicano estará representado pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), com dez porcento. A pesquisa será realizada em oito anos, dividida em três fases.

Maputo, Quarta-Feira, 25 de Agosto de 2010:: Notícias