quarta-feira, julho 21, 2010

Planta rara em risco de extinção no país


A “RAPHIA australis”, uma planta rara de múltiplas aplicações na sociedade e que a nível nacional apenas ocorre na zona de Bobole, distrito de Marracuene, a aproximadamente 30 quilómetros da cidade de Maputo, não consta da lista das espécies em extinção a nível global. No entanto, internamente existe uma grande preocupação dos investigadores da área, os quais vão envidar todos os esforços para salvar a planta da destruição provocada pelos camponeses que praticam agricultura na área.

Quem não se conforma com o que se está a passar com a “raphia australis” são os investigadores do Centro de Investigação Florestal (CIF). Embora a planta não conste da lista das espécies globalmente em extinção nos termos da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Silvestre Ameaçadas de Extinção, ratificada pelo Conselho de Ministros conforme a Resolução 20/81 de 30 de Dezembro, não restam dúvidas que a nível nacional a planta é única e digna de protecção.

De acordo com Massingue, a planta ocorre também isoladamente em Machubo, outra margem do mesmo riacho que faz a comunicação entre os rios Incomati e Matola. Nesta área, ainda é possível travar o seu derrube com alguma facilidade, pois são poucos ainda os camponeses que lá trabalham.

Entrevistado pela nossa Reportagem, o investigador começou por dizer que não tem confirmação da existência da planta noutras regiões do país. Já ouviu que é possível que ocorra em Calanga, uma localidade do distrito da Manhiça, localizada entre o rio Incomati e o Oceano Índico, informação que carece de confirmação.

De acordo com Massingue, a “raphia australis” é da família “arecaceae” e pertence a um género que tem mais de 20 espécies. Ela ocorre na zona tropical da África, particularmente em Madagáscar e América Latina.

É uma planta que tem a particularidade de ter um pecíolo longo, sendo por isso a palmeira com folhas mais largas relativamente às demais da mesma natureza. Geralmente pode atingir 16 metros de altura. Assim sendo, as suas aplicações são múltiplas comparativamente a palmeiras de outra natureza.

Um outro aspecto é que a “raphia australis” é uma das poucas plantas que possui flores masculinas e femininas, significando isto que para a sua multiplicação os dois tipos de flores entram, de forma natural, em contacto, gerando a semente. que pode brotar, dando novos indivíduos da espécie.

Outra nota particular é que ela floresce uma única vez num período de entre 20 a 40 anos. Posto isso, ela morre. “A raphia autralis autoperpetua-se de forma natural ou, por outra, ela tem uma regeneração natural”, referiu Eduardo Massingue.

Um outro facto interessante, ao contrário de outras palmeiras como o coqueiro, a “mhala”, uma vez iniciada a floração, atinge o ponto máximo do seu crescimento e acaba por morrer após a queda dos frutos.

A sua protecção na Reserva Natural de Bobole é necessária, uma vez que quando os pequenos frutos caem no solo brotam, dando novos indivíduos, garantindo a sobrevivência da espécie, mesmo depois da morte natural da planta-mãe.

Entretanto, de acordo com Cacilda João, engenheira que trabalha no CIF, no dia 19 de Fevereiro de 2004 fez-se a primeira experiência para que a planta germinasse fora do seu habitat natural.

Foram lançadas sementes diferentes em areia grossa, em condições diferentes. Passaram 14 meses e não germinaram. Perante este facto, os investigadores retiraram as sementes, tendo-as lançado debaixo de uma árvore, cobrindo-as com capim.

Porém, depois de quatro meses, os investigadores viram que novos indivíduos estavam a despontar debaixo da árvore-mãe. Este facto é utilizado hoje como base para afirmar que a semente pode germinar em seis meses.

Porém, o desafio continua, pois as sementes que germinaram haviam sido lançadas – nos 14 meses – em várias condições.

“Neste momento, o desafio é estudar os mecanismos da sua fácil multiplicação. É por isso que estão em curso análises de tecnologias que possam acelerar a sua germinação”, disse Eduardo Massingue.

“Desta vez vamos usar vasos plásticos e plantar em diferentes condições, pois queremos que esta espécie continue”, explicou Cacilda João, engenheira que abraça a iniciativa.

De acordo com ela, serão criados cenários diferentes para que as sementes possam brotar. Seguidamente, será escolhida a opção que mostrar maior viabilidade, tendo em conta que a areia a utilizar será grossa. De acordo com a investigadora, este tipo de areia é importante nesta fase de estudo na medida em que não tem micróbios que possam infectar as sementes e provocar um crescimento deficiente.

Por outro lado, é preciso estudar a possibilidade da sua multiplicação fora da Reserva, pois ali é ameaçada pelos camponeses para além de que é importante ver a possibilidade da sua adaptação noutras regiões.

A par disso, o CIF está em contacto com uma instituição de investigação portuguesa que poderá apoiar Moçambique na multiplicação da planta, em perigo de extinção devido à acção dos camponeses.
António Manhiça, vigilante da Reserva


GOVERNO DISTRITAL OFERECE TERRA PARA MULTIPLICAÇÃO

OS Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE) de Marracuene juntaram-se aos esforços que visam lutar a favor da “raphia australis”. Neste contexto, Joel Nhassengo, director da SDAE, garante desde já que o sector que dirige está disposto a atribuir espaço para o lançamento da semente. Esta é uma alternativa que se pode utilizar, tendo em conta que, presentemente, é complicado retirar os camponeses que praticam agricultura nas zonas onde ela ocorre, de forma natural.

Por outro lado, o SDAE pensa em adjudicar a reserva a privados. Estes poderão criar algumas infra-estruturas que possam atrair turistas, garantindo a existência da planta.

Por outro lado, o SDAE elaborou um plano que já o submeteu ao Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA) para obter apoio financeiro. Através do referido plano, o SDAE prevê contratar guardas para velar pela reserva, de forma diferente.

Nos termos do referido plano, os vigilantes seriam remunerados, diferentemente do que acontece neste momento em que estes nada ganham.

“Acreditamos que isso vai estimular os vigilantes, pois temos que reverter o cenário que se vive naquele local”, sublinhou o director.

No mesmo plano, de acordo com Nhassengo, prevê-se a vedação da área. Caso se consiga concretizar a iniciativa os camponeses serão retirados, pois a zona estará vedada.

“Estamos à espera da resposta de FDA para delinearmos o passo a seguir”, disse Nhassengo que aproveitou a oportunidade para apelar aos camponeses no sentido de não destruírem os pequenos indivíduos da espécie.

Serviu-se igualmente da nossa Reportagem para alertar às autoridades de que embora tenham criado a reserva mostram-se impotentes para garantir a manutenção da planta.

Aliás, basta recordar que o secretário do 3º bairro de Matalane, João Assone, e o vigilante António Manhiça manifestaram preocupação pelo estado em que a Reserva Natural de Bobole se encontra.
Escrito por Jornal Noticias Terça, 20 Julho 2010 07:38

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